sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O culto à prosperidade

Os evangélicos, e em especial os da vertente pentecostal,
ajudaram a criar na América Latina um ambiente social
favorável à ética do trabalho e da conquista pessoal



Os escândalos envolvendo a Igreja Universal do Reino de Deus são apenas uma face feia de um movimento religioso que, em pouco mais de 100 anos, construiu na América Latina uma história inspiradora, estendendo a mão àqueles que buscavam conforto espiritual em uma nova fé. Os evangélicos são herdeiros de uma tradição protestante que encontrou solo fértil nos Estados Unidos, baseada no comprometimento pessoal com Cristo e na adesão estrita à Bíblia. A vertente evangélica mais bem-sucedida no subcontinente é a pentecostal, que une a ortodoxia bíblica à ênfase na salvação por meio de milagres. Dois em cada três evangélicos latino-americanos são pentecostais ou neopentecostais – subcorrente que inclui a Igreja Universal. Na América Latina, aonde chegaram por meio de missionários americanos e europeus, as igrejas evangélicas difundiram a ética do trabalho e da realização pessoal e deram um senso de comunidade aos migrantes rurais que vinham para as cidades. A flexibilidade na hierarquia religiosa – qualquer um pode ser pastor, mesmo sem estudos – também ajudou a conquistar adeptos, principalmente entre as massas iletradas. Nos últimos quarenta anos, a população evangélica na América Latina pulou de 15 milhões para mais de 60 milhões de fiéis. Elas seguem uma grande variedade de denominações, algumas autóctones, outras filiais de igrejas brasileiras e americanas.

O pentecostalismo, com sua doutrina do bem-estar econômico indissociável da espiritualidade religiosa, teve o mérito de barrar o avanço de ideologias revolucionárias de esquerda na América Latina. As novas fés protestantes abordam o descontentamento social de maneira radicalmente diferente das teorias marxistas. Para os pentecostais, a pobreza é resultado do fracasso pessoal, não de um sistema econômico injusto. Na década de 70, quando as igrejas pentecostais começaram a crescer mais rapidamente na América Latina, o foco no conforto espiritual e na realização material serviu como contraponto à Teologia da Libertação, aquela estranha concepção marxista de catolicismo que transformou Jesus Cristo numa espécie de Che Guevara da Antiguidade.
Fonte: Revista Veja (19/08/09)

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Demografia da Fé.




Fonte: Veja Online

domingo, 2 de agosto de 2009

Gays farão ´beijaço` contra Mórmons

San Diego, EUA) Os grupos de defesa dos direitos dos homossexuais, em San Diego, estão planejando um "beijaço" em frente ao templo Mórmon, onde um casal gay foi detido por seguranças ao se beijar.



Os dois tinham saído de um show e voltavam para casa e estavam passando pelo local quando foram detidos.



A praça por onde eles passavam é propriedade da Igreja dos Mórmons e fica em frente ao templo.



O beijaço será o terceiro este ano contra atos de discriminação para com os homossexuais.



O porta-voz da Igreja disse que o casal tinha sido detido por se recusar a deixar a propriedade (a praça) e por conta do comportamento considerado inapropriado.


(Da Redação do Toda Forma de Amor com informações do Advocate)



Quão Inclusiva é a Diocese do Recife?


Seria redundante a afirmação de que a Diocese do Recife é inclusiva, porque a inclusividade é uma marca do Anglicanismo, com o reconhecimento, por um lado, que há assuntos adiáforos, e, por outro lado, com o princípio norteador: “No essencial unidade; no acidental diversidade; em tudo caridade”.

Uma das causas do presente conflito na Comunhão Anglicana diz respeito, justamente, à compreensão do que se entende por inclusividade. É ela ilimitada ou limitada? E quais são os limites?

O Liberalismo Pós-Moderno Revisionista tem afirmado uma nova e amplíssima compreensão: não haveria essenciais; tudo seria acidental. O tudo onde nos movemos em caridade é um tudo acidental, relativo. Os Credos e Confissões de Fé seriam documentos meramente históricos, informativos dos seus contextos, sem valor normativo, o mesmo se diga das prescrições bíblicas. A Igreja teria errado em definir heresias e expulsar os hereges. As heresias eram apenas “correntes”, “pontos de vista” que deveriam ter permanecido legítimos no interior de um espaço eclesial radicalmente plural. Nesse caso, em nossos dias, por que não incluirmos os mórmons e as testemunhas de Jeová?

Uma tendência mais radicalmente conservadora – seja tradicional, seja “renovada” – poderia ser tentada a transferir acidentais para a coluna de essenciais, reduzindo a primeira e ampliando a segunda, sob a sombra do sectarismo legalista-moralista, quase sempre com um déficit de caridade.

Em sua sofrida história, a Diocese do Recife tem afirmado a inclusividade limitada. Inclusividade dos gêneros, raças, classes sociais, níveis de instrução. Inclusividade de posicionamentos político-filosófico-ideológicos, de temperamentos e personalidades, de dons e vocações, de gostos estéticos. Inclusividade pelo reconhecimento da estabilidade da Ética e da mutabilidade da Moral. Inclusividade de tonalidades litúrgicas. Inclusividade dos aspectos periféricos da doutrina: aspersionistas vs. imersionistas, calvinistas vs. arminianos, pré-milenistas, a-milenistas ou pós-milenistas.

Algo que me atraiu no Anglicanismo foi justamente a riqueza da sua policromia, e como podemos nos enriquecer mutuamente e crescer na diversidade. Esse é um tesouro que deve ser preservado.

O quadro das últimas décadas tem concorrido para um maior respeito entre as correntes ortodoxas: anglo-católicos, evangélicos e carismáticos, com suas subcorrentes e nuances. Mais do que respeito, temos nos influenciado mutuamente, com uma cada vez maior convergência entre a valorização dos sacramentos e da liturgia, a valorização das Escrituras e da conversão e a valorização do poder e dos dons emanados da ação contemporânea do Espírito Santo.

Cremos que as Escrituras Sagradas, os Credos, as deliberações dos primeiros Concílios, o consenso dos Pais da Igreja e dos Reformadores, o Livro de Oração Comum (LOC), particularmente o Ordinal e os Trinta e Nove Artigos de Religião de Religião, o Quadrilátero de Lambeth, bem como as Resoluções das Conferências de Lambeth e os Cânones, são balizamentos limitadores da nossa inclusividade. Há lugar para uma ampla diversidade, mas não para uma diversidade total (“vale tudo”). Há lugar para uma ampla diversidade, mas no acidental.

Quando uma Província ou Diocese se pretende um ser sem doutrina e sem padrões de comportamento, essa visão de vanguardista não faz justiça ao que o Anglicanismo tem entendido por inclusividade ao longo da sua História.

A manutenção de essenciais nos liga à Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, e nos liga à Reforma, ao mesmo tempo em que nos vincula a uma identidade peculiar nossa. Aqui e ali, temos que enfrentar, também, avanços de limites que, em nome do anglo-catolicismo se quer incorporar romanismos, em nome do evangelicalismo se quer incorporar batistismos, e em nome do carismatimos se quer incorporar pentecostalismos.


A Diocese do Recife tem, por razões históricas, conhecido uma hegemonia evangélica e uma influência carismática, mas hegemonia não é exclusividade, e nunca fomos monocromáticos na espiritualidade das nossas diversas Paróquias, Missões e Pontos Missionários.

Somos absolutamente inclusivos quanto aos pecadores: todos são cordialmente bem-vindos às nossas comunidades de fé. Somos absolutamente inclusivos quanto aos pecados: não há “mortais”, nem “veniais”. Somos absolutamente inclusivos quanto à conversão: todos devem nascer de novo. Somos absolutamente inclusivos quanto à santidade: todos devem crescer ao caráter de Cristo.

Sei, perfeitamente, que não é fácil se manter o equilíbrio, o bom senso e a diversidade em um tempo de relativismo ou de intolerância. Mas, estou convencido, que devemos sempre buscar esse objetivo, e que essa deve ser uma das nossas contribuições para o conjunto do Cristianismo no Brasil.

É nisso que cremos, e que Ele nos ajude!

Recife (PE), 31 de julho de 2009.

Festa de José de Arimateia

+ Dom Robinson Cavalcanti, ose

Bispo Diocesano