domingo, 18 de março de 2012

Brasileiras são libertadas após sequestro no Egito




Contando os minutos para rever sua filha sequestrada neste domingo no Egito, o pastor Dejair Batista Silvério, 60 anos, confirmou por volta das 20h30 (horário de Brasília) ao Terra que Sara Lima Silvério, 18 anos, e a amiga Zélia Magalhães de Mello, 45 anos, foram libertadas. No horário, Silvério disse que faltava cinco minutos para a filha chegar no hotel onde estão hospedados os turistas brasileiros.



"Ela está para chegar, dentro de cinco minutos está para chegar no hotel. Está tudo bem com ela, não foi maltratada. Estou muito contente, não queria passar esta noite sem minha filha e sem a Zélia", disse Silvério, que está no Egito em visita de membros da Igreja Evangélica Avivamento da Fé a locais sagrados.



"Estamos em uma caravana, e Deus não negou fogo onde operou tantos milagres no passado", comemorou. Segundo Silvério, foi um guia turístico que lhe garantiu a liberdade das brasileiras. "Conseguimos falar com o guia egípcio que estava com ela (Sara). O celular dele pegou sinal, e pude falar com a minha filha. Estava tão emocionado que não perguntei nada."



O pastor não soube responder se houve um pedido de resgate. "Quem libertou elas foi a polícia egípcia. Os sequestradores devem ter um propósito que não sabemos qual é", afirmou, antes de elogiar a atuação do Itamaraty no caso. "O governo brasileiro foi maravilhoso. A embaixada agiu, entraram em contato comigo em várias oportunidades e vão voltar a falar porque querem conversar com elas. Tivemos toda a assistência possível", sustentou.



Silvério descreveu a abordagem do ônibus em que estava com a filha pelos sequestradores, supostamente beduínos. "Vínhamos do Mar Vermelho, eles apareceram em dois carros, picapes com metralhadoras e fuzis. Atiraram para o ônibus parar e entraram no ônibus, em uma ação muito rápida. Pegaram minha filha e a Zélia e as levaram para fora. Pensamos que iriam metralhar o ônibus, mas não fizeram isso nem roubaram nada", disse.



Terceiro caso em um mês e meio

O sequestro aconteceu no sul da Península do Sinai, no leste do Egito. O grupo de brasileiros havia visitado o mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai. O porta-voz da coalizão de tribos do Sul do Sinai, Yuma Salim Barakat, disse que os xeques tribais se deslocaram ao local do sequestro imediatamente após serem informados sobre o fato. Ele afirmou que as tribos rejeitam este tipo de sequestros de turistas, que afetam a vida dos moradores da região.



Este é o terceiro episódio com essas características registrado no Sinai em apenas um mês e meio. Tribos beduínas retiveram em fevereiro três turistas sul-coreanos e outros dois turistas americanos. Nos dois casos, os sequestros duraram apenas algumas horas e foram concluídos depois que os beduínos exigiram a libertação de companheiros detidos por delitos como assalto a banco e tráfico de ópio.



A Península do Sinai, desmilitarizada por causa dos acordos de paz de Camp David entre Israel e Egito (1978), se transformou em um dos principais pólos de atração turística no Egito, graças principalmente ao encantamento de sua costa e a centros históricos religiosos como o mosteiro de Santa Catarina.


Com informações da Agência Efe.

Fonte: Terra/Jornal do Brasil


domingo, 11 de março de 2012

Polícia do Rio investiga pastor-celebridade por denúncias de estupro, tortura e ameaça de morte

Com bom trânsito entre políticos, artistas e ONGs, o pastor Marcos é agora acusado de abuso sexual, tortura de crianças e conivência com a bandidagem que ele diz “curar”, conforme revela reportagem de VEJA desta semana 

Na última década, o pastor carioca Marcos Pereira, 55 anos, conquistou respeito em rodas que mesclam políticos, desembargadores, artistas e uma vasta turma egressa de ONGs. Entre os que já o viram em cima de um púlpito gesticulando com um de seus Rolex em punho e desejando “rajadas de glória” à plateia, estão o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), a produtora Marlene Mattos e o ex-pagodeiro Waguinho, que, mesmo sem se eleger, alcançou 1,3 milhão de votos na última disputa para o Senado tendo o pastor Marcos como cabo eleitoral. Alçado à condição de religioso-celebridade, Marcos extrapolou, e muito, as fronteiras de sua igreja, a pentecostal Assembleia de Deus dos Últimos Dias, com sede no Rio e filiais no Paraná e no Maranhão. Desde 2004 — depois de pôr fim a uma sangrenta rebelião em um presídio do Rio, a pedido do então secretário de Segurança, Anthony Garotinho —, ele passou a ser visto como o mais habilidoso apaziguador de conflitos liderados pela bandidagem, com um currículo que, segundo o próprio, inclui o resgate de centenas do tráfico. Tem feito esse trabalho no Brasil inteiro e já foi várias vezes aos Estados Unidos, onde quer erguer um templo, para falar da experiência. Pois por trás dessa fachada, ao que tudo indica, se esconde um enredo de atrocidades que não deixa pedra sobre pedra da imagem de bom religioso do pastor.



Em um recém-instaurado inquérito, cujo número é 902-00048/2012 e que está em poder da Delegacia de Combate às Drogas do Rio, ele é acusado de encenações de cura pela fé, estupro, tortura de crianças e relações criminosas com os marginais aos quais esbravejava promessas de “salvação do demônio”. VEJA teve acesso a trechos da investigação, um conjunto de relatos de gente que diz ter sido vítima ou testemunha da perversidade do pastor. Um de seus homens de confiança durante mais de seis anos, longe da igreja há dois, traz à luz uma história escabrosa, que dá a dimensão de como o pastor se enfronhou no mundo do crime. Essa testemunha sustenta, por exemplo, que Marcos ficou claramente do lado dos bandidos que engendraram a mais sangrenta onda de terror no Rio, em 2006. Depois dos ataques, reuniu seu séquito mais íntimo em uma churrascaria. “Ele queria que os bandidos tivessem até explodido a Ponte Rio-Niterói. O objetivo era aparecer depois como o intermediário salvador”, conta o ex-fiel. A trama piora na voz de outra testemunha, que situa o pastor como braço operacional da selvageria. “Marcos foi ao presídio de bangu 1 e saiu de lá com um recado dos chefões do tráfico para que suas quadrilhas dessem sequência à carnificina”, rememora. Como sabe disso? “O pastor me encarregou de repassar a ordem nas favelas. E foi o que eu fiz.”



A polícia já colheu uma dezena de depoimentos, e muitas das histórias se repetem nos mínimos detalhes. A investigação começou há duas semanas, depois que o coordenador da ONG Afro- Reggae, José Junior, 43 anos, veio a público denunciar que o pastor tinha um plano para matá-lo. A informação vinha de integrantes da própria igreja. “Trata-se de um psicopata”, dispara Junior, que hoje tem a seu lado na ONG um antigo braço direito de Marcos, o pastor Rogério Ribeiro de Menezes, 39 anos. Afastado do templo de Marcos desde 2008, ele fala pela primeira vez sobre os dezessete anos que viveu sob suas asas. Tomou a decisão depois de ter sido ameaçado de morte três vezes — na última, os traficantes de uma favela esfregaram um fuzil contra seu rosto e pronunciaram o nome Marcos.



Seu depoimento ajuda a elucidar o que tanto unia o pastor aos traficantes que ele dizia “curar”, e certamente não era a fé. Não raro, Marcos lhe pedia que escondesse mochilas cheias de dinheiro em sua casa. Contou duas vezes a coleção de notas. “Numa delas, havia 200 000 reais. Na outra, 400 000 reais”, lembra Rogério. Detalhe: traziam resquícios de cocaína e crack. Segundo Rogério, o pastor cobrava até 20 000 reais para pregar nas favelas, o que os traficantes pagavam de bom grado, já que assim mantinham sua base assistencialista. Três deles chegaram a ser presos em propriedades da igreja do pastor, no Rio e no Paraná, mas a polícia nunca comprovou que estavam ali com a conivência do religioso. Todos pagaram uma taxa equivalente a 10% de tudo o que haviam acumulado no crime.



Em seu templo, o fundador é tão reverenciado quanto temido. Até hoje, manteve todos em silêncio à base de benesses e ameaças. Duas mulheres contam como a igreja se tornou um show de horrores no qual lhes cabia o papel de vítimas do pastor. Ambas dizem que foram violentadas sexualmente por ele diversas vezes. À polícia, uma das moças afirma ainda que Marcos obrigava as fiéis de sua preferência a manter relações sexuais com outros homens, em orgias das quais também participava. “Depois, mandava a gente confessar tudo com outro pastor, sem revelar nomes, é claro”, ela conta. Constam ainda do inquérito denúncias de crueldades contra crianças que o pastor mantinha sob sua guarda, em geral abandonadas pelos pais. Uma delas, de 7 anos, teria pago caro por testemunhar, casualmente, as peripécias sexuais do religioso. Ao se dar conta, o pastor agarrou-a pelos cabelos e lançou-lhe a cabeça no vaso sanitário, segundo um dos relatos à polícia.



Ex-garçom, o pastor Marcos é casado e tem dois filhos que já seguem seus passos no mundo da fé. Convertido em 1989, fundou sua igreja dois anos depois e constituiu ali um reinado de trevas. Proíbe refrigerante, rádio, televisão (apesar de ter um telão em seu gabinete) e remédios, já que a igreja se encarrega da cura (aos que pagarem uma taxa extra via boleto bancário, distribuído durante a pregação). Os cultos, que juntam até 15 000 pessoas, são barulhentos e teatrais — literalmente, segundo narra um ex-assessor do pastor, que ajudava a armar o show: “Ele dava dinheiro a viciados para comprarem droga, filmava a turma em degradação e depois levava para a igreja, como se os estivesse salvando”. Na última segunda- feira, um rapaz adentrou a Assembleia de Deus dos Últimos Dias de muletas, que usava desde um acidente que lhe machucara o fêmur. Depois das orações do pastor Marcos, caminhou em frente aos fiéis dizendo-se curado. Findo o culto, subiu na mesma moto que havia conduzido na viagem de ida à igreja e foi embora.

Fonte: Veja online