quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Maturidade da Igreja: História, Cultura e Universalidade


Por Robinson Cavalcanti



É objetivo de todo cristão comprometido promover a maturidade da Igreja, que, se por um lado, passa pela maturidade individual de cada um dos seus membros – da liderança, em particular – inclui elementos do coletivo e do institucional. Não há Igreja Madura sem uma relação sadia com a História, a Cultura e a Universalidade.



Nossa fé tem raízes no Antigo Testamento, em narrativas de um Deus presente na História, acompanhando um pouco que fez História, com seus altos e seus baixos. O nosso é o Deus dos Patriarcas, dos Reis, dos Profetas, dos Poetas, o Deus da Lei e da Aliança, o Deus dos exílios e das libertações. Essa narrativa prossegue no Novo Testamento, com Jesus de Nazaré, os discípulos e seus atos, e prossegue até a antevisão do final do drama histórico. Creio que nenhum cristão minimamente sério irá negar essa natureza histórica da nossa fé, pois nela se vai construindo um projeto do Reino de Deus.



A questão é: e depois da morte de João em Patmos? O óbvio é que o Deus do antes e do durante os dias do Messias, é o Deus do Espírito derramado em Pentecostes, o Deus da promessa de assistência e presença junto à Igreja "até a consumação dos séculos". Essa assistência a um novo povo de todos os povos gerou uma instituição, que definiu os livros canônicos, que definiu os Sacramentos, que definiu as doutrinas centrais caracterizadoras nos Credos, que estabeleceu o Governo Episcopal. Se houve altos e baixos em Israel, também o temos tido na Igreja, mas como negar o valor dos primeiros e universais Concílios, a reflexão dos Pais Apostólicos, dos Pais da Igreja, dos Reformadores, e de atos e atores contemporâneos?



Uma heresia infame, herdada e "aperfeiçoada" desde a Reforma Radical é a afirmativa de uma "apostasia geral da Igreja", com uma visão idealizada da Igreja Primitiva, platônica de um povo "bom" contra uma instituição "má", e que tudo que não é igual a tal "Igreja primitiva" seriam inovações do Imperador Constantino. E aí se decreta umas "férias" do Espírito Santo entre a morte de João e o nascimento de Lutero...



A primeira grande fragilidade, primeira imaturidade da Igreja é o "agorismo": o que valeria seria o tempo presente, que inventa a roda outra vez, que despreza e escarnece do passado, flutuando no ar, sem raízes, sem experiência acumulada, sem consenso, sem Tradição, a depender dos modismos de cada dia e da vaidade de cada super-líder. Temos afirmado e reafirmado que sem passado não há presente nem futuro; que sem História não há identidade, ou maturidade.



A segunda grande fragilidade diz respeito à Cultura. Vivemos em um tempo histórico e um espaço geográfico que são sempre culturais e sempre ideológicos. Em cada "lócus" há uma língua, usos, costumes, folclore, mentalidade, pensar coletivo, que marcam a rica diversidade da cultura humana, dom de Deus à humanidade. Não há cultura totalmente perfeita, em virtude do Pecado Original, e não há cultura totalmente imperfeita, pela presença dos ecos da ordem da criação e da graça comum.



O judaísmo sobreviveu não apenas porque sistematizou e institucionalizou uma religião, mas porque elaborou uma cultura. O Islã é tributário da cultura árabe. O Cristianismo assume cada cultura, para consolidar e expandir as suas marcas positivas e reformar ou substituir as suas marcas negativas. Até que ponto o nosso Protestantismo é brasileiro, ou nordestino? Estamos imersos em nossa prosa e em nossa poesia, em nossa maneira de ser? Durante mais de um século (e o surgimento do presbiterianismo independente, do movimento radical batista ou da confederação evangélica são marcas dessa busca de aculturação e inculturação).



Aí vem, mais uma vez, a doideira radical de que "nada na cultura brasileira presta, pois o que não é católico idólatra ibérico é feitiçaria africana e ameríndia". Deus tenha piedade de nós! O resultado é a importação desenfreada e acrítica de tudo o que é modismo forâneo, com um macaqueamento triste, com brasileiro até falando com sotaque, e se comemorando nas Igrejas, no dia 31 de outubro, não o Dia da Reforma, mas a festa de Halloween...



Cadê a História? Cadê o Brasil? Cadê – nas palavras do poeta – o "ama com fé e orgulho a terra em que nasceste"?



A terceira fragilidade diz respeito à (falta de) Universalidade. O Espírito Santo foi derramado sobre toda a carne, a Igreja tem estado, por séculos e séculos, em muitas partes do mundo, e se expande hoje sobre muitas partes mais. E daí? E daí que ninguém tem interesse de conhecer e aprender com a riqueza da Igreja espalhada em todo o globo, e ver o que o Senhor está operando, de forma peculiar, em cada continente. Vive-se o samba de uma nota só da influência cultural norte-americana. Como na época da cultura greco-romana, somos marcados pelos "helenistas", os estrangeirizados em uma direção só.



Meu Deus! Que pobreza de espírito, que estreiteza de mente? O que vem de um império tem apenas a autoridade geo-político-econômica dos impérios, mas não quer dizer que seja o melhor, ou muito menos o único.



Cadê o mundo? Cadê o bi-milenar ou o recente não-anglo-saxão?



Abir-se para a riqueza da História, superando o "agorismo"; abrir-se para as raízes do Brasil, superando-se a nossa auto-demonização ou a divinização de onde há o demônio; abir-se para o mundo onde Deus está agindo, além de Hollywood, são, dentre outras variáveis, pré-condições fundamentais para uma Igreja Madura, porque sã.



Apesar das evidências contrárias de hoje, fica o desafio.




Robinson Cavalcanti é Bispo Diocesano

O Crescimento do Relativismo Religioso




Sem. Elton Roney Carvalho *


A proposta de uma fé baseada em um comodismo pessoal, aceitação de sentimentos desencadeados da própria construção da personalidade e inclusão de formas de religião e visão de mundo equivalentemente diferente, está cada vez mais em alta na atualidade da religião mundial e, especificamente, em propostas apresentadas por certas correntes que se autodenominam cristãs, mas, que quebram abertamente com a historicidade cristã no que diz respeito a não aceitação da homossexualidade, aderindo a tal proposta[1]. A visão global de uma espiritualidade centrada em uma verdade absoluta é gradativamente mais incoerente no pensamento racional atual. Na verdade, o que mais observamos é um crescimento das formas de expressões religiosas, porém, decrescente na forma de expressar uma identidade religiosa única. Não falamos mais de uma revelação de religião para a humanidade, mais, uma humanidade com diversas formas de religião; não mais um caminho de religação do homem com a divindade, mas, várias possibilidades de "atalhos" para se chegar ao "patamar supremo", ou seja, a uma divindade (deus) ou a um estado (Nirvana) para religiões como o budismo e o bramanismo hindu.



Esse pensamento está cada vez mais na boca das pessoas que rodeiam nossas vidas, que habitam ambiente longe de padrões acadêmicos, o que podemos chamar de senso-comum. Entretanto esse senso-comum é quase que sem senso algum, pois, para essas pessoas a religião não é algo que garante uma vida melhor, mas, uma privação de prazeres e de uma "vida livre", sem dogmas e nada para atrapalhar seu bel prazer. Portanto, é taxadamente negado todo argumento que impeça sua liberdade, sem prévia forma de crítica alguma. Daí, temos dois públicos, especificamente, que trabalham a expressão religiosa no mundo: a classe de intelectuais que ajustam os "dogmas" religiosos de acordo com o caminhar da história mundial, e a classe que recebe esse ajuste de mal ou de bom grato, dependendo da formação intelectual, espiritual, cultural e socioeconômica.



É interessante ressaltar que a reflexão acerca desse movimento histórico mundial é, antes de tudo, necessária para entendimento global da expressão religiosa, como também, para compreender para onde se caminha a religião. Essa análise tipifica a idéia de sermos filhos do nosso tempo, e, portanto, participantes ativos da História.



A religião é algo inteiramente presente e sempre atendendo ao homem e seus anseios. Portanto, estudar a religião é estudar o homem, sua antropologia e sua resposta à maior questão da História: Quem sou eu? Essa questão da identidade do homem está amplamente ligada à religião. Portanto, ao analisar uma manifestação da religião no mundo, inevitavelmente analisamos seu comportamento e seu pensar sobre a vida e o que ela é. Estudar a religião é estudar o interior (espírito) e exterior (atitudes materiais).



O Desenvolvimento do Humanismo e sua Conseqüência à Religião Atual



O movimento renascentista desencadeou a outro movimento específico denominado Humanismo. Nele, o homem cria a noção de Liberdade, que é, por sua vez, nada mais, nada menos, que uma libertação do intenso período de opressão religiosa e política, vivido durante a Idade Média. Essa idéia de liberdade de diretrizes específicas trouxe ao mundo atual uma grande capacidade crítica em tudo que diz respeito à privação de seu pensamento e comportamento, recaindo, inevitavelmente, no discurso religioso. Esse impulso do homem pela sua autonomia foi chamado por Dooyeweerd[2] como o "ideal de personalidade". Já no campo científico, o homem acreditou ser totalmente possível o controle da realidade através da razão, ou seja:



Por meio da crítica racional, da pesquisa científica e da tecnologia, o homem poderia não só derrotar as forças que o oprimiam, mas também ganhar o controle da criação, com o fim de satisfazer a todas as suas necessidades [3].



Esse pensamento humanista tem tido seu impacto em grandes parcelas do discurso religioso. O subjetivismo vem como conseqüência inevitável dele, tratando todo e qualquer posicionamento religioso como subjetivo, onde, eu posso crer em meu deus e você pode crer em seu deus, mas, no momento que quero afirmar que o meu deus é o melhor para você, isso gera desacordo, pois, o grande julgador de nossa religião é hoje as emoções e os sentimentos, daí, observamos frases por ai como: A fidelidade de hoje não é mais ao cônjuge e, sim, aos sentimentos.



Sem dúvida, a questão do relativismo humanista no discurso religioso ainda terá muito que falar. Portanto, a proposta da análise do papel da religião será sempre muito abrangente. Cabe-nos analisar a atualidade de questões específicas que vêm como conseqüência desse pensamento, como a aceitação aberta da Homossexualidade dentro de formas de expressões religiosas específicas, a Pluralidade Religiosa e o Cristianismo Histórico atingido pelo liberalismo atual.



Ficam as questões: Para onde caminha o discurso religioso? Qual a moralidade religiosa em meio á autoridade estatal? O que restará do absoluto religioso de cada religião? O que se vê é um declínio dos princípios religiosos no mundo e sua autoridade está sendo questionada? Mas, ao mesmo tempo cresce rapidamente o número de religiosos no mundo. Em seu livro A próxima Cristandade[4], o historiador britânico Philip Jenkins afirma, em uma projeção, que o número de Católicos do mundo de 2000 ao ano de 2025 crescerá de 1.056 até 1.362 milhões, no mais:



Não havendo mais fonte de Revelação Absoluta, não há padrões morais absolutos, e tem-se que criar uma nova moralidade, uma ética de situação ou uma ética ideológica. O sim e o não são substituídos pelo talvez, pelo depende e pela justificação dos meios pelos fins[5].



O papel da proclamação da verdade é nosso!



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[1] CAVALCANTI, Robinson. Reforçando as trincheiras: análise da problemática do homossexualismo à luz do cristianismo histórico. São Paulo: Editora Vida, 2007, p.14.

[2] DOOYEWEERD, Hermam. The Christian Theory of Social Institutions. La Jolla: The Hermam Dooyereerd Foundation, 1986.

[3] CARVALHO, Guilherme Vilela Ribeiro [organizador]. Cosmovisão cristã e transformação. Viçosa, MG: Ultimato, 2006, p.129.

[4] JENKINS, Phillip. A Próxima Cristandade. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Record, 2004.

[5] CAVALCANTI, Robinson. Uma Benção Chamada Sexo. São Paulo: GW Editora, 2005, p.14.



*Elton Roney Carvalho é membro da Diocese do Recife, aluno do Seminário Anglicano Teológico – SAT-PB; participa ativamente do Arcediagado Paraíba.

Quarenta Livros Que Fizeram a Cabeça dos Evangélicos Brasileiros nos Últimos Quarenta Anos




Por Ricardo Quadros Gouvêa*

Toda lista é pessoal, e esta não é uma exceção, mas busquei seguir aqui critérios objetivos: livros que foram campeões de vendagem, citados e debatidos, que influenciaram e continuam influenciando os evangélicos brasileiros, livros muito lidos com alto índice de rejeição, e também os que hoje estão operando uma mudança paradigmática na cultura evangélica contemporânea. Escolhi no máximo um livro por autor e procurei incluir alguma diversidade cultural e de gênero literário, bem como denominacional e teológica, sem que isso nos tirasse do projeto original: listar os quarenta livros que, nos últimos quarenta anos, fizeram a cabeça do povo evangélico brasileiro. Ordenei a lista por ordem de importância: dos livros mais influentes aos menos influentes dentre os quarenta selecionados, independentemente da data. Divirta-se concordando ou discordando, corrigindo meus equívocos e fazendo sua própria lista.

1. "Mananciais no Deserto" -- Lettie Cowman [Betânia]

Não há outro livro mais amado pelos evangélicos brasileiros. Este campeão de vendagem é um livro de leituras devocionais diárias que conquistou nosso país. O livro é, de fato, bom, mas desconfio que a tradução deu uma mãozinha.


2. "Uma Igreja com Propósitos" -- Rick Warren [Vida]

O maior "best-seller" evangélico de todos os tempos é uma catástrofe literária. É ainda difícil calcular o dano que esta obra equivocada causou e ainda irá causar, com sua filosofia de ministério inteiramente vendida ao "Zeitgeist", propondo a homogeneização das igrejas e um pragmatismo de dar medo.


3. "A Quarta Dimensão" -- David Paul Yonggi Cho [Vida]

Este livro fez mais pelo movimento pentecostal no Brasil do que qualquer televangelista. O testemunho bem escrito do pastor coreano que vive cercado de milagres causou "frisson" até mesmo nos grupos mais conservadores. Seu modo de ver a vida com Deus e o ministério marcaram as últimas décadas.


4. "A Agonia do Grande Planeta Terra" -- Hall Lindsay [Mundo Cristão]

Calcado no pré-milenismo dispensacionalista de Scofield, este "best-seller" apocalíptico empolgou os profetas do fim do mundo no Brasil, com sua interpretação literalista imprudente e seu patriotismo norte-americano acrítico. Lindsay foi o arauto de três décadas das mais absurdas especulações escatológicas em nossas igrejas.


5. "O Ato Conjugal" -- Tim e Beverly La Haye [Betânia]

Sexo é um assunto importante, e o povo ansiava por uma orientação em face da revolução sexual dos anos 60. Daí o sucesso de um livro bem escrito como este, didático e conservador, ao gosto da moral evangélica, mas sem ser inteiramente obtuso. Mesmo assim, muitos o chamaram de pornográfico. Nada mais injusto.


6. "Este Mundo Tenebroso" -- Frank Peretti [Vida]

A ficção convence mais rápido. Revoluções acontecem inspiradas por romances, e não por tratados filosóficos. Peretti, com seu horror cristão, nos ensinou o significado da batalha espiritual nos anos 80, reencantou o submundo evangélico, inspirou pregadores e, o que não é nada ruim, motivou muitos adolescentes a ler obras de ficção bem melhores.


7. "A Morte da Razão" -- Francis Schaeffer [ABU]

A intelectualidade evangélica adotou este livro como alicerce nos anos 70, para enfrentar o existencialismo, o movimento "hippie", o marxismo e a contracultura em geral. O livro convencia que o cristianismo não era incompatível com o estudo e a reflexão. É uma pena que Schaeffer estivesse tão equivocado em suas idéias centrais.


8. "Celebração da Disciplina" -- Richard J. Foster [Vida]

Este clássico da espiritualidade cristã, escrito por um quacre, fez um tremendo sucesso no Brasil a partir dos anos 80. É excelente, mas será que todos que o compraram de fato o leram? Gostaria de perceber uma maior influência das idéias de Foster em nosso povo, mais oração, silêncio, calma, estudo, empenho, enfim, disciplina espiritual.


9. "De Dentro para Fora" -- Larry Crabb [Betânia]

Os livros devocionais evangélicos de viés psicológico ou de auto-ajuda são os títulos que mais vendem. Dentre eles, alguns se destacam não só por serem campeões de vendagem, mas porque são os melhores do gênero. Crabb é o melhor autor do gênero e este é seu melhor livro, que impactou o nosso povo nos anos 90.


10. "Louvor que Liberta" -- Merlin R. Carothers [Betânia]

Este pequeno e poderoso manifesto em forma de testemunho revolucionou, nos anos 70, o louvor e a adoração no Brasil. O bom capelão ensinou a todos nós a espiritualidade da adoração, o poder do louvor, impulsionando as guerras litúrgicas que marcariam a vida de nossas comunidades a partir de então.



11. "Vivendo sem Máscaras" -- Charles Swindoll [Betânia]

Outro "best-seller" devocional dos anos 90, de viés psicológico e de auto-ajuda, com o vigor característico das obras de Swindoll, escritas a partir de suas pregações. Muitos se sentiram não apenas edificados, mas tocados e transformados.

12. "A Cruz e o Punhal" -- David Wilkerson [Betânia]

Outro opúsculo dos anos 70 que, na forma de um testemunho pessoal, inspirou os jovens evangélicos a uma fé mais comprometida. Curiosamente, não levou as igrejas a um investimento em missões urbanas, idéia que permeia todo o livro. Talvez o Brasil evangélico dos anos 70 não estivesse pronto para missões urbanas.


13. "Crer é Também Pensar" -- John Stott [ABU]

Stott é um ícone no Brasil, um nome respeitado pela sua erudição e sua notável produção literária, apesar de estar invariavelmente sob suspeita de heresia pelos mais neuróticos. O fato é que a qualidade de seus livros varia. Seu excelente "Ouça o Espírito, Ouça o Mundo" merece mais atenção. Já o opúsculo selecionado, tão conhecido desde os anos 70, não tem muito a dizer além do título.


14. "O Senhor do Impossível" -- Lloyd John Ogilvie [Vida]

Outro devocional que emplacou no Brasil nos anos 80, não sem méritos. É o maior sucesso do autor, ainda que inferior a "Quando Deus Pensou em Você", que o antecedeu. O livro estimula a fé e nos faz mais esperançosos, apesar da teologia rasa.


15. "A Família do Cristão" -- Larry Christenson [Betânia]

Antes de Dobson e tantos outros, Christenson já era "best-seller" nos anos 70. Pioneiro entre os que se pretendem auxiliares da vida familiar cristã, ele foi estudado nos lares por grupos e células, em escolas dominicais etc. Sua eficácia é comprovada.


16. "O Jesus que Eu Nunca Conheci" -- Philip Yancey [Vida]

Os anos 90 assistiram ao aparecimento de um dos mais argutos e estimulantes autores evangélicos de todos os tempos: o audaz Yancey, que começou a apontar para o paradigma emergente em livros como "Alma Sobrevivente", "Descobrindo Deus nos Lugares mais Inesperados", "Maravilhosa Graça", "Rumores de Outro Mundo", "Decepcionado com Deus" e tantos outros livros excelentes. E o mais conhecido e lido parece ser mesmo "O Jesus que Eu Nunca Conheci".


17. "O Discípulo" -- Juan Carlos Ortiz [Betânia]

Poucos livros foram tão impactantes nos anos 70 quanto esta obra que, excepcionalmente, não vinha do mundo anglo-saxão, mas da Argentina. Por isso mesmo, Ortiz tinha uma outra linguagem, um discurso que convencia os jovens brasileiros da seriedade e do valor de se tornar mais do que um mero freqüentador de igrejas, um genuíno discípulo de Cristo.


18. "Bom Dia, Espírito Santo" -- Benny Hinn [Bompastor]

O neopentecostalismo brasileiro é, em grande parte, de inspiração norte-americana. Talvez o nome mais importante nesse processo seja o do "showman" evangélico Benny Hinn, que desde os anos 90 assombra os norte-americanos pela televisão com seus feitos espetaculares. Mesmo quem não o leu conhece sua influência no Brasil.


19. "O Refúgio Secreto" -- Corrie Ten Boom [Betânia]

O testemunho desta nobre senhora holandesa encantou também o Brasil, onde seu livro foi um grande sucesso nos anos 70. Suas aventuras durante a Segunda Guerra Mundial, sob o pano de fundo de sua educação em um lar cristão, são comoventes e inspiradoras.


20. "A Autoridade do Crente" -- Kenneth Hagin [Infinita]

Hagin foi um divisor de águas no mundo evangélico, pois desde sua influência os crentes "tomam posse", "determinam", "amarram" e "exigem". Uma nova forma de falar se fez presente, o que gerou muitas novas piadas também.


21. "Entendes o que Lês?" -- Fee e Stuart [Vida Nova]

Que bom que um livro sério como este foi tão lido e estudado no Brasil. Trata-se de um compêndio de hermenêutica bíblica sem complicações, em linguagem acessível, adotado por quase todos os seminários e estudado até mesmo nas EBD's e pequenos grupos. Este livro fez muito pela educação bíblica dos evangélicos brasileiros.


22. "Culpa e Graça" -- Paul Tournier [ABU]

Não há, com raras exceções, psicólogo cristão que não considere este livro um fundamento e um marco do pensamento cristão. Mas ele não se limita a isso, tendo tido considerável influência na teologia evangélica brasileira nos anos 90, preparando nosso povo para o paradigma emergente do século 21.


23. "Novos Líderes para Uma Nova Realidade" -- Caio Fábio D'Araújo Filho [Vinde]

Este opúsculo foi, se não o mais lido, certamente o mais importante dos numerosos livrinhos do pastor Caio Fábio, fenômeno de popularidade no Brasil nos anos 80 e 90, pastor midiático, influente, contundente, imitado, adorado e odiado. Caio nos ensinou a ver as coisas de outro jeito, e seu legado não vai desaparecer.

24. "Vida Cristã Normal" (ou "Equilibrada", na reedição) -- Watchman Nee [Editora dos Clássicos]

O controverso evangelista e autor chinês Nee teve muita influência nos anos 70 e 80, com sua visão mística do que significa ser um cristão evangélico conservador. Este livro foi seu maior sucesso, um comentário de Romanos, ainda que seu livro mais objetivo e claro seja "A Liberação do Espírito".


25. "É Proibido" -- Ricardo Gondim [Mundo Cristão]

Gondim é um dos melhores e mais polêmicos autores evangélicos contemporâneos. Seus livros, como Eu Creio, Mas Tenho Dúvidas, O que os Evangélicos (Não) Falam, Orgulho de Ser Evangélico, são sempre interessantes. Nenhum, porém, foi tão influente e marcante como "É Proibido", um verdadeiro libelo anti-legalista.


26. "Conselheiro Capaz" -- Jay Adams [Fiel]

Adams era uma pessoa muito simpática. Sua escola de aconselhamento cristão é muito antipática. Diferentemente de Crabb, por exemplo, problemas emocionais têm origem fisiológica ou pecaminosa. Por isso, é preciso confrontar as pessoas e insistir na mudança do seu comportamento. Foi um sucesso nos anos 80. Haja behaviorismo!


27. "Quebrando Paradigmas" -- Ed René Kivitz [Abba Press]

Este livro foi decisivo para que os evangélicos brasileiros começassem a enxergar a outra margem do rio, a margem pós-evangélica do paradigma emergente. Kivitz é um autor surpreendente e notável, de mente dinâmica e arejada, que propõe importantes rupturas e renovações, como em seu outro livro "Outra Espiritualidade".


28. "O Amor Tem Que Ser Firme" -- James Dobson [Mundo Cristão]

O conhecido "Dr. Dobson" é pensador e autor de grandes qualidades e grandes defeitos. Seus livros, como "Educando Crianças Geniosas", ajudam famílias e promovem uma espécie de teologia aplicada que merece atenção. Há, porém, muito que não se deveria levar a sério, já que vai contra o que há de mais consagrado na psicologia moderna.


29. "Supercrentes" -- Paulo Romeiro [Mundo Cristão]

O autor de "A Crise Evangélica" tem talento e tem algo a dizer. Seus textos, especialmente o famosos "Supercrentes", têm apontado para os exageros e enganos de muitas posturas comuns no meio evangélico contemporâneo.


30. "Cristianismo e Política" -- Robinson Cavalcanti [Ultimato]

Trata-se de um clássico. Este livro está nas origens de toda reflexão política evangélica. Robinson é importante por outras questões, como seus livros sobre sexualidade ("Uma Bênção Chamada Sexo", "Sexualidade e Libertação"), mas sua contribuição permanente é o estímulo que deu à reflexão política evangélica.

31. "O Evangelho Maltrapilho" -- Brennan Manning [Mundo Cristão]

Não há outro autor mais importante no meio evangélico nos últimos dez anos do que Brennan Manning. Seus livros devocionais, como "O Impostor que Vive em Mim", "A Assinatura de Jesus", "O Obstinado Amor de Deus", estão transformando radicalmente a maneira como os evangélicos entendem a vida cristã. Eu fico muito grato.


32. "O Pastor Desnecessário" -- Eugene Peterson [Mundo Cristão]

Peterson é muito estimado no meio evangélico brasileiro e um dos autores mais bem avaliados dos últimos tempos. Responsável por projetos como "The Message" (excelente paráfrase bíblica), tem nos galardoado com obras como "Corra com os Cavalos", "A Oração que Deus Ouve", "A Vocação Espiritual do Pastor", "Transpondo Muralhas", entre outros. Selecionei o que talvez seja o mais importante.


33. "Poder Através da Oração" -- E. M. Bounds [Batista Regular]

Nos anos 70, quando não havia ainda bons livros sobre oração, como o de Richard Foster ou o de Eugene Peterson, os livros de Bounds sobre oração circulavam de mão em mão, trazendo avivamento às igrejas. Hoje Bounds está quase esquecido. Quase.


34. "Cristo é o Senhor" -- Dionísio Pape [ABU]

No fim dos anos 60 e começo dos anos 70, o nome de Pape se destacava pela espiritualidade, profundidade e sucesso ministerial. Seu opúsculo "Cristo é o Senhor" levou muitos à consagração e ao ministério.


35. "O Caminho do Coração" -- Ricardo Barbosa [Encontro]

Barbosa (junto com Osmar Ludovico, James Houston e outros) é responsável pelo retorno ao interesse pela mística cristã em nosso país. Seus livros nos ensinam uma outra atitude não somente em relação à vida, mas também em relação à teologia. Uma atitude contemplativa.


36. "O Novo Testamento Interpretado" -- R. N. Champlin [Hagnos]

Não privilegiei obras teológicas e comentários bíblicos nesta lista porque tais livros, em geral, não vendem bem e sua influência é pequena. Uma exceção precisava ser feita em relação ao favorito das bibliotecas. O empenho exaustivo de Champlin precisava ser lembrado, pois ainda vende bem e é o comentário primordial dos evangélicos.


37. "Icabode" -- Rubem Martins Amorese [Ultimato]

Este livro pode não ter sido tão lido quanto é citado, mas definiu um novo tipo de reflexão cristã no Brasil, que propõe diálogo com a cultura em outro nível que não o da evangelização, e sim o da discussão de valores e princípios que podem levar nossa sociedade para um patamar melhor ou pior. É uma boa influência.

38. "A Bíblia e o Futuro" -- Anthony Hoekema [Cultura Cristã]

Este estudo do Apocalipse cresceu em importância no Brasil em uma época em que quase não havia obra que fizesse uma defesa do amilenismo, apesar dos pouco conhecidos esforços de Harald Schally. O livro provocou conversões em massa a partir dos anos 80, e a escatologia nunca mais foi a mesma no Brasil.

39. "Cristianismo Puro e Simples" -- C. S. Lewis [Martins Fontes]

Também conhecido como "Mero Cristianismo", a busca de Lewis pelo denominador comum da fé cristã impacta brasileiros desde os anos 70. Seleciono o livro simbolicamente, já que Lewis não poderia ficar de fora, seja por causa de "Os Quatro Amores", "Milagres", "Cartas do Inferno" ou "As Crônicas de Nárnia".


40. "A Mensagem Secreta de Jesus" -- Brian D. McLaren [Thomas Nelson]

Em 2007 o leitor evangélico brasileiro foi surpreendido por este livro do mesmo autor de "Uma Ortodoxia Generosa". Fiquei admirado ao ver como todos passaram a conhecer e a comentar a obra de McLaren, que representa melhor do que ninguém o paradigma teológico evangélico emergente. Não dá pra não ler.




*Ricardo Quadros Gouvêa é ministro presbiteriano e professor de teologia e de filosofia.