domingo, 2 de agosto de 2009

Quão Inclusiva é a Diocese do Recife?


Seria redundante a afirmação de que a Diocese do Recife é inclusiva, porque a inclusividade é uma marca do Anglicanismo, com o reconhecimento, por um lado, que há assuntos adiáforos, e, por outro lado, com o princípio norteador: “No essencial unidade; no acidental diversidade; em tudo caridade”.

Uma das causas do presente conflito na Comunhão Anglicana diz respeito, justamente, à compreensão do que se entende por inclusividade. É ela ilimitada ou limitada? E quais são os limites?

O Liberalismo Pós-Moderno Revisionista tem afirmado uma nova e amplíssima compreensão: não haveria essenciais; tudo seria acidental. O tudo onde nos movemos em caridade é um tudo acidental, relativo. Os Credos e Confissões de Fé seriam documentos meramente históricos, informativos dos seus contextos, sem valor normativo, o mesmo se diga das prescrições bíblicas. A Igreja teria errado em definir heresias e expulsar os hereges. As heresias eram apenas “correntes”, “pontos de vista” que deveriam ter permanecido legítimos no interior de um espaço eclesial radicalmente plural. Nesse caso, em nossos dias, por que não incluirmos os mórmons e as testemunhas de Jeová?

Uma tendência mais radicalmente conservadora – seja tradicional, seja “renovada” – poderia ser tentada a transferir acidentais para a coluna de essenciais, reduzindo a primeira e ampliando a segunda, sob a sombra do sectarismo legalista-moralista, quase sempre com um déficit de caridade.

Em sua sofrida história, a Diocese do Recife tem afirmado a inclusividade limitada. Inclusividade dos gêneros, raças, classes sociais, níveis de instrução. Inclusividade de posicionamentos político-filosófico-ideológicos, de temperamentos e personalidades, de dons e vocações, de gostos estéticos. Inclusividade pelo reconhecimento da estabilidade da Ética e da mutabilidade da Moral. Inclusividade de tonalidades litúrgicas. Inclusividade dos aspectos periféricos da doutrina: aspersionistas vs. imersionistas, calvinistas vs. arminianos, pré-milenistas, a-milenistas ou pós-milenistas.

Algo que me atraiu no Anglicanismo foi justamente a riqueza da sua policromia, e como podemos nos enriquecer mutuamente e crescer na diversidade. Esse é um tesouro que deve ser preservado.

O quadro das últimas décadas tem concorrido para um maior respeito entre as correntes ortodoxas: anglo-católicos, evangélicos e carismáticos, com suas subcorrentes e nuances. Mais do que respeito, temos nos influenciado mutuamente, com uma cada vez maior convergência entre a valorização dos sacramentos e da liturgia, a valorização das Escrituras e da conversão e a valorização do poder e dos dons emanados da ação contemporânea do Espírito Santo.

Cremos que as Escrituras Sagradas, os Credos, as deliberações dos primeiros Concílios, o consenso dos Pais da Igreja e dos Reformadores, o Livro de Oração Comum (LOC), particularmente o Ordinal e os Trinta e Nove Artigos de Religião de Religião, o Quadrilátero de Lambeth, bem como as Resoluções das Conferências de Lambeth e os Cânones, são balizamentos limitadores da nossa inclusividade. Há lugar para uma ampla diversidade, mas não para uma diversidade total (“vale tudo”). Há lugar para uma ampla diversidade, mas no acidental.

Quando uma Província ou Diocese se pretende um ser sem doutrina e sem padrões de comportamento, essa visão de vanguardista não faz justiça ao que o Anglicanismo tem entendido por inclusividade ao longo da sua História.

A manutenção de essenciais nos liga à Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, e nos liga à Reforma, ao mesmo tempo em que nos vincula a uma identidade peculiar nossa. Aqui e ali, temos que enfrentar, também, avanços de limites que, em nome do anglo-catolicismo se quer incorporar romanismos, em nome do evangelicalismo se quer incorporar batistismos, e em nome do carismatimos se quer incorporar pentecostalismos.


A Diocese do Recife tem, por razões históricas, conhecido uma hegemonia evangélica e uma influência carismática, mas hegemonia não é exclusividade, e nunca fomos monocromáticos na espiritualidade das nossas diversas Paróquias, Missões e Pontos Missionários.

Somos absolutamente inclusivos quanto aos pecadores: todos são cordialmente bem-vindos às nossas comunidades de fé. Somos absolutamente inclusivos quanto aos pecados: não há “mortais”, nem “veniais”. Somos absolutamente inclusivos quanto à conversão: todos devem nascer de novo. Somos absolutamente inclusivos quanto à santidade: todos devem crescer ao caráter de Cristo.

Sei, perfeitamente, que não é fácil se manter o equilíbrio, o bom senso e a diversidade em um tempo de relativismo ou de intolerância. Mas, estou convencido, que devemos sempre buscar esse objetivo, e que essa deve ser uma das nossas contribuições para o conjunto do Cristianismo no Brasil.

É nisso que cremos, e que Ele nos ajude!

Recife (PE), 31 de julho de 2009.

Festa de José de Arimateia

+ Dom Robinson Cavalcanti, ose

Bispo Diocesano

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