quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O Crescimento do Relativismo Religioso




Sem. Elton Roney Carvalho *


A proposta de uma fé baseada em um comodismo pessoal, aceitação de sentimentos desencadeados da própria construção da personalidade e inclusão de formas de religião e visão de mundo equivalentemente diferente, está cada vez mais em alta na atualidade da religião mundial e, especificamente, em propostas apresentadas por certas correntes que se autodenominam cristãs, mas, que quebram abertamente com a historicidade cristã no que diz respeito a não aceitação da homossexualidade, aderindo a tal proposta[1]. A visão global de uma espiritualidade centrada em uma verdade absoluta é gradativamente mais incoerente no pensamento racional atual. Na verdade, o que mais observamos é um crescimento das formas de expressões religiosas, porém, decrescente na forma de expressar uma identidade religiosa única. Não falamos mais de uma revelação de religião para a humanidade, mais, uma humanidade com diversas formas de religião; não mais um caminho de religação do homem com a divindade, mas, várias possibilidades de "atalhos" para se chegar ao "patamar supremo", ou seja, a uma divindade (deus) ou a um estado (Nirvana) para religiões como o budismo e o bramanismo hindu.



Esse pensamento está cada vez mais na boca das pessoas que rodeiam nossas vidas, que habitam ambiente longe de padrões acadêmicos, o que podemos chamar de senso-comum. Entretanto esse senso-comum é quase que sem senso algum, pois, para essas pessoas a religião não é algo que garante uma vida melhor, mas, uma privação de prazeres e de uma "vida livre", sem dogmas e nada para atrapalhar seu bel prazer. Portanto, é taxadamente negado todo argumento que impeça sua liberdade, sem prévia forma de crítica alguma. Daí, temos dois públicos, especificamente, que trabalham a expressão religiosa no mundo: a classe de intelectuais que ajustam os "dogmas" religiosos de acordo com o caminhar da história mundial, e a classe que recebe esse ajuste de mal ou de bom grato, dependendo da formação intelectual, espiritual, cultural e socioeconômica.



É interessante ressaltar que a reflexão acerca desse movimento histórico mundial é, antes de tudo, necessária para entendimento global da expressão religiosa, como também, para compreender para onde se caminha a religião. Essa análise tipifica a idéia de sermos filhos do nosso tempo, e, portanto, participantes ativos da História.



A religião é algo inteiramente presente e sempre atendendo ao homem e seus anseios. Portanto, estudar a religião é estudar o homem, sua antropologia e sua resposta à maior questão da História: Quem sou eu? Essa questão da identidade do homem está amplamente ligada à religião. Portanto, ao analisar uma manifestação da religião no mundo, inevitavelmente analisamos seu comportamento e seu pensar sobre a vida e o que ela é. Estudar a religião é estudar o interior (espírito) e exterior (atitudes materiais).



O Desenvolvimento do Humanismo e sua Conseqüência à Religião Atual



O movimento renascentista desencadeou a outro movimento específico denominado Humanismo. Nele, o homem cria a noção de Liberdade, que é, por sua vez, nada mais, nada menos, que uma libertação do intenso período de opressão religiosa e política, vivido durante a Idade Média. Essa idéia de liberdade de diretrizes específicas trouxe ao mundo atual uma grande capacidade crítica em tudo que diz respeito à privação de seu pensamento e comportamento, recaindo, inevitavelmente, no discurso religioso. Esse impulso do homem pela sua autonomia foi chamado por Dooyeweerd[2] como o "ideal de personalidade". Já no campo científico, o homem acreditou ser totalmente possível o controle da realidade através da razão, ou seja:



Por meio da crítica racional, da pesquisa científica e da tecnologia, o homem poderia não só derrotar as forças que o oprimiam, mas também ganhar o controle da criação, com o fim de satisfazer a todas as suas necessidades [3].



Esse pensamento humanista tem tido seu impacto em grandes parcelas do discurso religioso. O subjetivismo vem como conseqüência inevitável dele, tratando todo e qualquer posicionamento religioso como subjetivo, onde, eu posso crer em meu deus e você pode crer em seu deus, mas, no momento que quero afirmar que o meu deus é o melhor para você, isso gera desacordo, pois, o grande julgador de nossa religião é hoje as emoções e os sentimentos, daí, observamos frases por ai como: A fidelidade de hoje não é mais ao cônjuge e, sim, aos sentimentos.



Sem dúvida, a questão do relativismo humanista no discurso religioso ainda terá muito que falar. Portanto, a proposta da análise do papel da religião será sempre muito abrangente. Cabe-nos analisar a atualidade de questões específicas que vêm como conseqüência desse pensamento, como a aceitação aberta da Homossexualidade dentro de formas de expressões religiosas específicas, a Pluralidade Religiosa e o Cristianismo Histórico atingido pelo liberalismo atual.



Ficam as questões: Para onde caminha o discurso religioso? Qual a moralidade religiosa em meio á autoridade estatal? O que restará do absoluto religioso de cada religião? O que se vê é um declínio dos princípios religiosos no mundo e sua autoridade está sendo questionada? Mas, ao mesmo tempo cresce rapidamente o número de religiosos no mundo. Em seu livro A próxima Cristandade[4], o historiador britânico Philip Jenkins afirma, em uma projeção, que o número de Católicos do mundo de 2000 ao ano de 2025 crescerá de 1.056 até 1.362 milhões, no mais:



Não havendo mais fonte de Revelação Absoluta, não há padrões morais absolutos, e tem-se que criar uma nova moralidade, uma ética de situação ou uma ética ideológica. O sim e o não são substituídos pelo talvez, pelo depende e pela justificação dos meios pelos fins[5].



O papel da proclamação da verdade é nosso!



--------------------------------------------------------------------------------

[1] CAVALCANTI, Robinson. Reforçando as trincheiras: análise da problemática do homossexualismo à luz do cristianismo histórico. São Paulo: Editora Vida, 2007, p.14.

[2] DOOYEWEERD, Hermam. The Christian Theory of Social Institutions. La Jolla: The Hermam Dooyereerd Foundation, 1986.

[3] CARVALHO, Guilherme Vilela Ribeiro [organizador]. Cosmovisão cristã e transformação. Viçosa, MG: Ultimato, 2006, p.129.

[4] JENKINS, Phillip. A Próxima Cristandade. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Record, 2004.

[5] CAVALCANTI, Robinson. Uma Benção Chamada Sexo. São Paulo: GW Editora, 2005, p.14.



*Elton Roney Carvalho é membro da Diocese do Recife, aluno do Seminário Anglicano Teológico – SAT-PB; participa ativamente do Arcediagado Paraíba.

Nenhum comentário: