sexta-feira, 1 de maio de 2009

Ponto de Equilíbrio


Sem. Elton Roney Carvalho (¬)



Toda existência está inserida em uma forma de acontecimento. Nem tudo acontece por um acaso. O propósito de algo sempre está ligado a uma causa maior do que conhecemos. Nossa vida, nossas metas, nossas realizações e as realizações que deixamos de lado, são consequências desse propósito maior. Cristo, o centro de toda estrutura, é o acaso explicável, o princípio e o fim, Aquele que expressa a pura certeza em meio às nossas dúvidas. Isso pelo simples fato de nossa aceitação.

Para que algo permaneça de pé, tem que ter uma estrutura, um ponto que o faça seguro, alicerçado e propício ao crescimento. Numa planta, temos sua raiz, parte fundamental que gera segurança, força e vida à mesma, é seu “ponto de equilíbrio”, é o que lhe garante existência e crescimento. Claro, depois da Natureza. O Sol, obra das mãos de Deus, concede à Terra vida, o aquecimento, a iluminação e, com sua energia, faz brotar a vida que necessita. E assim, sucede-se a vida; todos têm seu ponto de equilíbrio, sua segurança, sua rocha.

O ponto de equilíbrio, muitas vezes, ganha nome de Sentido da vida. Concordo. Qual tem sido o sentido da vida ou a própria vida desse mundo atual? Qual tem sido o ponto de equilíbrio de nossa geração? Cito alguns que regem o mundo e acredito que possam estar na característica de sentido da vida, do mundo; ponto de equilíbrio: “Imoralidade, Impureza e indecência, idolatria... vaidades, ambição egoísta, partidarismo... bebedeiras, orgias e coisas semelhantes”[1]. Tudo que gera o funcionamento dessa grande engrenagem humana é o sentimento de satisfação pessoal, o “aproveitamento” irresponsável de sua vida. A existência tornou-se uma corrida contra o tempo, uma corrida por sentir-se realizado em uma vida longe das respostas procuradas.

A falta de busca para compreender as verdades de Deus reveladas nas Escrituras tem criado uma geração que facilmente alicerça sua existência e sua fé em falsos pontos de equilíbrio; tem gerado fiéis desequilibrados. A nossa própria falta de abertura para o conhecimento de Deus, o nosso próprio pecado causa cegueira, nos fazendo não compreender o equilíbrio certo para o momento certo. Em cada atitude, Deus espera de mim equilíbrio com Sua revelação, com Sua Palavra, com Sua vontade.

Em meio aos “ventos de doutrinas” e às “tradições de homens”, existe a pura dificuldade de ouvirmos a Palavra de Deus e nos tornarmos pessoas equilibradas. O Apóstolo Paulo exorta ao Jovem Tito:

“Exorta os mais velhos para que sejam equilibrados, respeitáveis, sóbrios, sadios na fé, no amor e na constância; as mulheres mais velhas, de igual modo, sejam reverentes no viver, não caluniadoras... exorta de igual modo os jovens para que sejam equilibrados”[2].

Mas, para os mais práticos, surge de imediato a pergunta: Como fazer isso? Como me tornar equilibrado diante do Pai? Como posso ter uma vida mais bem estruturada e equilibrada? Como posso ter uma vida plenamente estruturada em minha fé?

1. Compreenda a revelação de Deus

São muitos os que afirmam a fé cristã. São tantos que acredito que, se o mesmo número fosse acrescido de uma fé alicerçada, o mundo seria diferente. Não julgo da autenticidade da nossa fé, mas, me sinto mal diante de irmãos(ãs) que observamos pouco sentimento de conhecer profundamente dos preceitos de Deus e Sua revelação, de estudar a Palavra de Deus e decidi-la viver integralmente. Por que temos tantas dificuldades de cumprir ações transformadoras de nossas próprias vidas? “E não vos amoldeis ao esquema desse mundo, mas, sede transformados pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa perfeita e agradável vontade de Deus”[3].

Busque o alicerce fiel da Palavra de Deus, não deixe que sua vida se torne mais um fruto da superficialidade atual do mundo, crie relacionamentos firmes com seus irmãos, não permita que o barulho da confusão atual do mundo faça de você um cético, mas, aprenda a ter fé, que é, por sua vez, “a certeza do que não se vê”. Compreender a revelação de Deus é permitir-se conhecer mais de Deus, através, e principalmente, da paixão pela Sua Palavra. Dê o valor merecido à Bíblia!

2. Conheça e exercite seus dons (habilidades) espirituais

O privilégio de ser parte da família de Deus é grande, ainda mais quando podemos realizar com nossas próprias mãos parte da obra de nosso Pai. Deus nos concede a grande oportunidade de realizar algo em Seu nome, nos concede autoridade e capacidade para sermos embaixadores de Cristo. Somos parte de um “organismo” (nas palavras do Pastor Rick Warren) que trabalha e sempre deve trabalhar pela proclamação da Sua Palavra e pela atuação das Boas Novas no mundo.

Há uma diversidade de dons, como expressa o Apóstolo Paulo em 1 Coríntios 12. Podemos exercer aquilo que Deus desejou, em plena conformidade com nossos desejos, com nossas habilidades pessoais, com nossos talentos. O dom que Deus nos concede não é uma contradição com o que gostamos de realizar em nossas vidas. Com nossa própria experiência de vida podemos fazer somar o organismo vivo que é a Igreja de Deus. O que Deus lhe ensinou a fazer melhor? Faça para Ele. Isso dará um sentido à sua vida, como nada jamais deu.

3. Reconheça suas prioridades

Estamos buscando passos que nos façam equilibrados diante de Deus. Aprendemos que devemos buscar compreender a revelação de Deus, objetivando chegar mais perto Dele. Percebemos que devemos reconhecer e depois exercitar os nossos dons, que são nossas habilidades pessoais desenvolvidas e lapidadas por Deus para o uso do crescimento de Sua Igreja, Sua missão aqui na terra. Devemos nos conhecer em termos de lugar certo e habilidades coerentes com nossas personalidades. Você já viu alguma orelha tentando ver alguma coisa? Acho que não! Todos têm sua natureza, e a faz funcionar bem. Qual é a nossa?

É daí que vai desencadear nossas prioridades. Em nossas habilidades descobriremos o que mais podermos fazer para nossa vida, nossas causas e nossas metas. Lembrando que isso não entra em choque com o Reino de Deus em nossas vidas, pois o próprio é a nossa vida. A espiritualidade do Reino de Deus em nossas vidas deve acontecer na medida de nossa atuação no mundo. Não existe divisão entre atuação no Reino de Deus e atuação no mundo secular. Existe sua posição diante dos dois.

Quando priorizo as minhas atividades que surgem de quem eu realmente sou, estou sendo equilibrado, estou honrando a Deus que me criou para fazer isso, para realizar tal propósito. Não devemos ser levado por todo desejo que vem a nós como sentimentos efêmeros; atendendo a toda vontade que não é centrada na Palavra de Deus.

Na construção de uma personalidade centrada na verdade que buscamos, devemos compreender que a ação do Espírito de Deus em nós é que nos guia para patamares maiores de entendimento daquilo que o Próprio Deus quer de nós. Vivemos em um tempo puramente consequência de séculos de ateísmo, onde não há explícito na mente das pessoas, a certeza de uma caminhada sólida rumo a algum lugar. O que as pessoas buscam são respostas imediatas à suas buscas históricas. Essa busca histórica experimenta uma série de soluções para uma única resposta que termina em Cristo. Se o Homem pensa que irá conseguir respostas nas perguntas erradas, está enganado. Na verdade, às vezes nem acho que o homem pergunta errado; acho que ele não quer enxergar a resposta evidente existente na Criação e na Revelação Histórica de Deus. Sendo assim, aceita as várias propostas de “pontos de equilíbrio” concedidas pelo “príncipe deste mundo”.

Qual é a razão para a busca pelo equilíbrio na centralidade cristã? É a razão do que somos e devemos ser: o Equilíbrio para um mundo desequilibrado. Sem delongas teológicas cristãs e discursos sem fim em sermões de mais de horas, decretos em nossas vidas a excelência de uma vida equilibrada diante de Deus e das pessoas, pratiquemos uma fé engajada na Igreja do nosso Senhor para que frutifique em equilíbrio na Sã doutrina, no Evangelho autêntico, na disciplina do amor e na consolidação da missão global.




[1] Gálatas 5:19-21.

[2] Tito 2:2-3,6.

[3] Romanos 12:2.


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Elton Roney Carvalho é membro da Diocese do Recife, aluno do Seminário Anglicano Teológico – SAT-PB; participa ativamente do Arcediagado Paraíba.

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