terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A DOR DO OUTRO: JÓ E A PROVA DENTRO DA PROVA (Uma pequena reflexão a respeito de um episódio na vida do patriarca)

Por Guilherme Parizio 



Engraçado como nos relacionamentos fraternais o que menos ocorre é isonomia. Temos a tendência de sermos muito severos com nossos amigos e mais flexíveis conosco mesmos. A paciência com os erros ou fraqueza alheia e a palavra certa e branda na hora da tribulação quase sempre não é uma via de mão dupla. Esquecemos que a linha entre ser "profeta" na vida do outro, denunciando o pecado, e a simples crítica fácil, dando diagnósticos nem sempre justos e condizentes com a real situação do "amigo" naquele momento crucial é muito sutil. Damos uma de "amigo de Jó". 



Para quem não lembra, o patriarca, por ocasião de sua prova, recebeu a visita de seus amigos Elifaz, Bildade e Zofar. Visita de amigos na hora da tribulação, que refrigério! Um consolo para a alma. Contudo, ao dar continuidade a leitura do texto sagrado vamos constatar que essa visita, não obstante ser de boa fé, resultou em mais angustia para Jó em alguns momentos. E longe de consolá-lo trouxe mais dissabores para ele. 



A boa fé da visita pode ser comprovada na passagem que se encontra no cap. 2 v. 11 e 12: 


“11 Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo esse mal que lhe havia sucedido, vieram, cada um do seu lugar: Elifaz o temanita, Bildade o suíta e Zofar o naamatita; pois tinham combinado para virem condoer-se dele e consolá-lo”.
12 E, levantando de longe os olhos e não o reconhecendo, choraram em alta voz; e, rasgando cada um o seu manto, lançaram pó para o ar sobre as suas cabeças."

Observamos nessa passagem todas as demonstrações de pessoas amigas e preocupadas com a real situação do outro: 

1-"Ouvindo... vieram cada um do seu lugar"

Ouve um desprendimento da parte dos amigos que deixaram seus afazeres. Haja visto a situação econômica de Jó, podemos supor que esses seus amigos eram ricos comerciantes do oriente. Eles não mediram esforços e abandonaram tudo o que estavam fazendo para estarem com o amigo. Isso denota que os mesmos, não obstante a riqueza que possuíam, davam mais valor a vida humana e ao próximo do que a bens materiais.

2-"Consertaram juntamente virem condoer-se dele e consolá-lo"

Havia um propósito benevolente por parte dos três. O trio primeiramente se reuniu e deliberaram em consolar o amigo juntos. Certamente com a presença dos três haveria mais chance de sucesso em reanima-lo. Não era uma atitude precipitada e oriunda de um desejo mórbido de simplesmente "ver" o sofrimento do outro. Muitas vezes recebemos visitas de "amigos" que escutam de nossos problemas e simplesmente aparecem de forma inesperada. Porém os tais não tem outra intenção se não certificarem-se de nossa real situação. Longe de nos ajudar tais pessoas compram e vendem nossa história para outras pessoas, muitas vezes tecendo criticas maldosas. Não era o caso aqui. O sentimento de compaixão era patente e a bíblia o deixa bem claro.

3-"Levantaram a voz choraram... (v. 12)

A cena do homem desfigurado e prostrado foi muito forte pra eles. Aqui é visível o sentimento de empatia. Certamente eles estavam acostumados a ver o comerciante bem sucedido e não um mendigo chaguento. O ato de rasgar as vestes denota alta indignação. Eles estavam muito transtornados com aquela situação.

Diante dessa explanação os amigos poderão indagar: diante de toda essa boa vontade e altruísmo por parte dos amigos, onde e porque eles erraram? Isso é o que veremos a seguir em outro post, caso queiram ler. 

(comecei a escrever esse post agora de 5:30 da manhã, acompanhado de nenhum outro livro senão a bíblia sagrada. Preciso dar uma saída)

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