quinta-feira, 24 de abril de 2008


HISTÓRIA DOS CARMELITAS

L. SAGGI


(Dizionario degli Istituti di Perfezione, vol. II col. 460-521, Edizioni Paoline, Roma 1975. Alguns dados foram atualizados por Emanuel Boaga e Wilmar Santin. Tradução: Wilmar Santin)

I. ORIGENS E DESENVOLVIMENTO INICIAL

Os carmelitas surgiram dos cruzados estabelecidos no Monte Carmelo da Galiléia no século XII. Ali estão no início do século seguinte “ao exemplo e imitação do santo e solitário homem Profeta Elias, junto à fonte que de Elias leva o nome, em cubículos como colméias, onde como abelhas colhiam o mel divino da doçura espiritual” (Jacques de Vitry, Historia Orientalis, c. LII). Tanto na época como depois, os carmelitas nunca deram a alguém em particular o título de fundador, permanecendo fiéis ao modelo de Elias, ligado ao Monte Carmelo pelo episódio narrado em 1Rs 18, 20-45 (sacrifício e nuvenzinha) e pela tradição patrística greco-latina. Construíram uma capela e a dedicaram a Maria, Mãe de Jesus. Isto fez com que surgisse neles o sentimento de pertença a Nossa Senhora como Senhora do Lugar. Dela tomaram o nome e a ela deram os atributos dados ao fundador e padroeiro. Em seguida o elemento mariano foi enriquecido. A “forma de vida” – de acordo com o “propositum” manifestado pelos eremitas – foi dada num ano não sabido entre 1206 e 1214 pelo patriarca de Jerusalém Santo Alberto. Ele, porém, residia em São João de Acre. Antes de ir para a Terra Santa, tinha sido bispo de Vercelli. Parece que, por causa das conhecidas restrições do IV Concílio do Latrão, se julgou oportuno também pedir a confirmação pontifícia. Esta foi concedida pelo Papa Honório III em 30 de janeiro de 1226. Depois foi confirmada mais vezes até se tornar verdadeiramente uma própria regra. Os Papas conduziram a Ordem do Carmo em direção ao movimento dos Mendicantes, quando foi necessária a transferência para o Ocidente por causa de instável situação política na Palestina. O Papa Inocêncio IV, servindo-se de dois dominicanos, adaptou a regra (a pedido de um capítulo geral da Ordem) e a confirmou definitivamente no dia 1º de outubro de 1247.

A Ordem foi erradicada da Terra Santa com a caída do reino latino (1291). Os conventos existentes na Palestina: do Monte Carmelo, de São João de Acre e de Tiro desapareceram. No entanto permaneceram com o título de Província da Terra Santa os conventos da ilha de Chipre até 1571.

No final do século XIII a Ordem se tinha estendido pela Europa. Contava com cerca de 150 casas, agrupadas em 12 províncias. Sofreu dificuldades internas de adaptação. Nicolau Gálico, que foi prior geral depois da metade do século, tentou reconduzir os carmelitas à vida puramente eremítica. Neste sentido, é célebre a sua Ignea Sagitta de 1270-71. Mas também houve dificuldades externas devido ao ambiente contrário aos Mendicantes e à decisão do II Concílio de Lyon (1274) de tolerar os carmelitas até nova decisão. O Papa Honório IV os confirmou na prática, e pouco depois foram confirmados de direito pelos papas Bonifácio VIII (05/05/1298) e João XXII (13/03/1317 e 21/11/1326). Esta última data assinala a extensão aos Carmelitas da bula Super cathedam, já concedida aos franciscanos e dominicanos.

A história da Ordem se articula na obra de mais ou menos 130 capítulos gerais (o número não é de todo seguro devido às incompletas informações relativas ao século XIII) e de mais de 90 entre priores gerais e vigários gerais apostólicos. Nos século XIV e XV a Ordem seguiu nas grandes linhas as vicissitudes das outras Ordens Mendicantes: o florescimento dos estudos, o enfraquecimento do espírito religioso causado pelas calamidades em geral (peste negra (1347-1350), cisma do Ocidente, “claustralidade”). O esforço de restauração através dos santos e dos movimentos de “observância” mais ou menos vastos.

Em relação aos estudos, quando os carmelitas apareceram na Europa as várias escolas já estavam formadas. Foram bastante ecléticos e não tiveram até o século XIV prescrições precisas da cúpula da Ordem. Recordamos os nomes de Gerardo de Bolonha (1240-1317), que foi o primeiro mestre parisiense da Ordem e prior geral (1297-1317); Roberto Walsingham (+ após 1312): Guido Terreni (1270 - 21.8.1342), prior general (1318-21), depois bispo de Maiorca (1321-32) e Elne (1332-42); Siberto di Beka (1260/70-1322?), o primeiro grande liturgista da Ordem; João Baconthorp (1290?-1348) que interpretou Averróis; Osberto Anglico; Paulo de Perugia (+1344+); Miguel Aiguani (1320+-1400) exegeta, prior general (1380-6); Francisco de Bacon (+1372?); João Brammart (+1407), cofundador da universidade de Colônia; Francisco Martí; Tomás Netter ou Walden (+1431), conselheiro, pregador e confessor de Henrique IV, V, e VI da Inglaterra, por Martinho V foi chamado de «validus ensis Ecclesiae» por causa de seus escritos contra Wicliff (Doctrinale antiquitatum fidei Ecclesiae catholicae, 3 vol.).

II. A OBSERVÂNCIA

Os movimentos de reforma organizados tiveram início logo após a reconstrução da unidade da Ordem (Capítulo geral de 1411), que seguiu ao cisma. Foi a “Observância das Selvas”, surgida no convento homônimo junto a Florença em 1412-3, depois uniu-se às reformas dos conventos de Gironda na Suíça e de Mântua e se tornou a Congregação Mantuana, aprovada pelo Papa Eugênio IV em 03/09/1442. Esta prometia a restauração do fervor da vida em comum, renunciando também à mitigação da regra concedida por Eugênio IV em 1435 (a data oficial no entanto é 15/02/1432), mas manteve este ponto só por uns 20 anos. No período de maior expansão teve 53 conventos e mais de 700 religiosos e em torno de 15 mosteiros femininos. Entre os seus homens mais ilustres, recordamos: o beato Ângelo Agostinho Mazzinghi de Florença (+17.8.1438, beatificado em 1721); beato Bartolomeu Fanti de Mântua (+1495, beatificado em 1909); beato Battista Spagnoli, também de Mântua (1447-1516, beatificado em 1885), seis vezes vigário general da Congregação e três anos prior general de toda Ordem, insigne humanista (mais de 50.000 versos latinos e outras obras em prosa), chamado por Erasmo como o Virgílio cristão; beata Joana Scopelli (+9.7.1491, beatificada em 24.8.1771), fundadora do mosteiro de Reggio Emília; beata Arcângela Girlani (+25.1.1495, beatificada em 1º.10.1864), fundadora do mosteiro de Mântua; Alberto Leoni da Revere (1563ca-1642), reformador dos conventos de Castellina e das Selvas (ambos perto de Florença) e em Florença instituidor da «Obra dos catecúmenos» para a conversão de hebreus e outros, e precursor da obra benefício aos dementes; João Domingos Lucchesi (1652-1713), grande penitente. A Congregação Mantuana teve freqüentes controvérsias com o prior geral da Ordem por causa da visita canônica, especialmente nos dois primeiros séculos de existência. Fui reunida ao antigo tronco da Ordem pelo Papa Pio VI em 1783.

Outro movimento de observância foi na França a Congregação Albiense, iniciada em 1499 com elementos da Congregação Mantuana por obra do bispo de Albi, Luís d’Amboise. Foi aprovada pelo Papa Leão X em 15/09/1513 e suprimida pelo Papa Gregório XIII em 1º/05/1584, mas durou na prática até 1602. Teve poucos conventos e esteve quase sempre em luta com os superiores gerais da Ordem. Não se destacou pelo espírito interior devido às condições gerais da França na segunda metade daquele século.

Ente os conventos individualmente que abraçaram vida mais austera deve-se ressaltar o de Monte Oliveto, perto de Gênova, fundado por Hugo Marengo – que também pertenceu à Mantuana – com a licença do Papa Leão X em 02/08/1516. Mais tarde passou à imediata dependência do prior geral e depois à Província Lombarda.

Até este período floresceram almas santas também fora dos movimentos oficiais de reforma. Pode-se indicar: Santo Alberto de Sicília (+1307, culto reconhecido em 1457 e 1476), considerado o «pai da Ordem» porque é o primeiro de seus santos; Santo André Corsini (1315?-1374, beatificado em 1440, canonizado em 1629), bispo de Fiésole (1349-74); São Pedro Tomás (1305+-66), bispo sucessivamente de Patti e Lipari, de Coron na Moréia, de Creta, patriarca de Constantinopla, legado da Santa Sé em várias cortes da Europa e do Médio Oriente, negociador da reunião dos Gregos com Roma, principal fundador da faculdade teológica de Bolonha (1364), chefe espiritual da cruzada promovida por Pedro de Lusignano (1365); beato Franco de Sena (+1291?), grande penitente; beato Nuno Álvares Pereira (1360-1431, beatificado em 1918), Grande Condestável e herói nacional português, cujas façanhas foram cantadas nos «Lusíadas» de Luís de Camões, depois «donato» carmelita; beato Giacomino da Crevacuore (+3.3.1508, beatificado 3.3.1845), converso; beato Luís Rabatá (+1490, beatificado em 1841) prior do convento de reforma de Randazzo na Sicília, celebrado pelo perdão das ofensas; beata Francisca d’Amboise (1427-85, beatificada em 1863), duquesa da Bretanha, depois carmelita, fundadora do mosteiro de Bon Don (as primeiras carmelitas na França). Para o século XV vai recordado o prior general beato João Soreth (1394+-1471, beatificado em 1866), que, sob a base da regra mitigada pelo Papa Eugênio IV, organizou nas províncias um vasto movimento de reforma, que tomou dele o nome.

Também para os carmelitas a questão principal por longo tempo foi a da reforma. As tentativas do século XV produziram notáveis frutos, mas não sempre duradouros. No século seguinte se dedicaram a este problema os grandes priores gerais Nicolau Audet (1481+ - 1562), João Batista Rossi (1507-78) e João Batista Caffardo (+1592).

Audet, prior geral de 1523 a dezembro de 1562, percebeu que a responsável última pela situação da Ordem era a Cúria Roma, sobretudo por causa da praxe das dispensas que anulava na prática toda tentativa séria de reforma. Uniu-se como os superiores gerais das outras Ordens (foi amicíssimo de Seripando, dos agostinianos) para uma ação comum. Contribuiu para manter vivo o problema que em parte pôde ser resolvido ainda antes do término do Concílio de Trento. No interior da Ordem promoveu a restauração da perfeita vida comum, da clausura, da pobreza, da cura dos doentes, da observância litúrgica, da formação dos noviços e do progresso nos estudos, da prevenção e cura dos efeitos negativos da doutrina protestante.

III. A REFORMA TERESIANA

A obra de Audet foi retomada – em melhores condições devido à publicação da reforma tridentina – pelo sucessor João Batista Rossi (ou Rubeo) de Ravena (1562-78). Ele se encontrou diante às dificuldades de crescimento da Reforma de Santa Teresa, iniciada no ramo feminino com a fundação do mosteiro de São José em Ávila no ano 1562 e no ramo masculino com a abertura do primeiro convento em Duruelo no ano 1568.

A reforma promovida por Audet visava a restauração das antigas prescrições e se pode dizer que ainda mantinha sua inspiração medieval. Mas a insatisfação explodida com tanta violência na Igreja tinha fundamento também na transformação dos tempos, que também devia ser levada em conta. Por isto surgiram vária formas novas de vida religiosa ou reformas das antigas Ordens. Pretendia-se dar uma alma mais profunda às várias prescrições de caráter externo, algumas das quais foram até mesmo agravadas. Tratava-se de uma nova fórmula, pelo menos na interpretação, que para muitos parecia a única válida e para vivê-la mais intensamente foram tentadas também perigosas aventuras.

O Prior Geral Rossi captou o espírito formador deste novo curso e o exaltou, desejando que se tornasse o fermento para toda a Ordem. Em abril de 1567 ele se encontrou com Santa Teresa de Ávila e a exortou a fundar tantos mosteiros femininos “quantos os cabelos que tinha na cabeça”. Quanto aos religiosos, já antes que Santa Teresa projetasse a extensão da sua reforma ao ramo masculino (para que as monjas “descalças” pudessem ter ajuda espiritual dos seus confrades), o prior geral Rossi tinha favorecido várias tentativas de maior interiorização da vida, seja na Itália como na Espanha. Quanto aos conventos dos descalços, ele permitiu, em 10 de agosto de 1567, que se abrissem dois. Nestes os “contemplativos” deviam permanecer sempre sujeitos à obediência do provincial de Castilha. Sobre o número dos conventos ele próprio autorizou o seu aumento, mas em relação ao território manteve a exclusão (datada em 1567 quando tinha faculdade apostólica) da Andaluzia por motivos objetivamente graves. Surgiu um sério “conflito de jurisdição”, sobretudo por causa do visitador apostólico, o dominicano Francisco Vargas, que queria casa dos descalços na Andaluzia, e do núncio Nicolau Ormaneto. O conflito teve fases dramáticas, em particular depois que o capítulo geral de Piacenza de 1575, com autoridade apostólica, impôs o fechamento dos conventos andaluzes, e o núncio Ormaneto ajudou a quem se opôs a tal decisão. Um episódio da controvérsia, porém, materialmente ligado principalmente a fatos acontecidos no mosteiro da Encarnação em Ávila, foi o encarceramento de São João da Cruz no convento de Toledo, de onde conseguiu fugir nove meses mais tarde (dezembro de 1577 a agosto de 1578). O conflito terminou no momento em que os descalços obtiveram a província separada (breve Pia consideratione de 22 de junho de 1580, atuada no capítulo de Alcalá de 3 de março de 1581). O prior geral Rossi já tinha morrido e o seu substituto era João Batista Caffardo (1578-92), que manteve boas relações com os descalços. Ele, além disso, trabalhou na execução dos decretos tridentinos. No capítulo geral de Cremona de 1593 (quando foi eleito João Estêvão Chizzola), os descalços obtiveram a separação jurídica do velho tronco. Neste meio tempo tinham elaborado constituições próprias e tinha deixado o rito da Ordem pelo Romano, conseguindo um próprio procurador junto ao Papa (breve Quae a praedecessoribus, de 20 de setembro de 1586), e tinham se reunido em Congregação (breve Cum de statu de 10 de julho de 1587), compreendendo 5 províncias e governada pela rígida “Consulta” de 7 pessoas, das quais a principal teve Nicolau Doria como vigário.

IV. OS EFEITOS DA REFORMA PROTESTANTE

Fora da Itália e da Espanha, os efeitos foram graves. No final do século XVI, no capítulo de 1593, devia-se nomear 6 provinciais “titulares”, em vez dos efetivos para as províncias que tinham sido destruídas: Saxônia, Boêmia, Dácia (países bálticos), Inglaterra, Escócia e Irlanda. Nomeou-se também o provincial titular da Terra Santa, visto que a Província de Chipre (herdeira do título) tinha se perdido com a tomada da ilha por parte dos turcos em 1571. Graves foram também os danos nas províncias que conseguiram se manter em pé, ou seja, as duas das Alemanha (Inferior e Superior) e as sete da França, onde foram destruídos 20 convento e mortos vários religiosos.

No início da reforma protestante vemos os carmelitas Teodoro de Gouda na universidade de Colônia, Nicolau Edmundano e João van Paeschen na de Lovaina, empenhados na luta contra Erasmo e inovadores. Valiosos defensores da ortodoxia na Alemanha foram particularmente André Stoss (1477?-1540), provincial da Província Germaniae Superioris a partir de 1529, e Everardo Billick (1500+-57), de 1542 provincial da Província Germaniae Inferioris. Este último participou dos colóquios de Regensburgo e Ausburgo (1547s) e em julho de 1547 foi encarregado por Carlos V da pacificação religiosa. Na Dinamarca o último e grande defensor da Igreja Católica foi o carmelita frei Paulo Elias, eleito provincial em 1522 (+ 1534?), polemista e conselheiro dos bispos católicos. Na França se distinguiram os provinciais Mateus Lelande (da França), Alberto Jeannin (de Narbona) e Vital de Luperia (da Gasconha). Na Itália, Gian Maria Verrati, da Congregação Mantuana, defendeu a doutrina católica com numerosos escritos.

A contribuição dos carmelitas no Concílio de Trento nos seus três períodos foi no total em torno de 40 participantes, entre padres e teólogos. Os efeitos do protestantismo na Itália foram bastante modestos, também por mérito das disposições adotadas nos capítulos da Congregação Mantuana de 1527 e 534 e no capítulo geral da Ordem de 1548.

V. MISSÕES

As perdas causadas pelo protestantismo foram em parte compensadas pelo aumento das casas na Itália (até de modo exuberante, tanto que o Papa Clemente VIII, em 1592, autorizou o prior geral de suprimir os conventos que causavam preocupações) e no Novo Mundo, especialmente no Brasil (onde em 1606 havia 99 religiosos carmelitas em 6 conventos). A expansão na “Índias Ocidentais”, mais que um intento missionário (não excluído, antes positivamente previsto), foi querida como forma normal de apostolado e um modo de defender a devoção a Nossa Senhora.

Grandes foram as dificuldades encontradas na América espanhola. Parece que, no início, se tratava de iniciativas individuais. O primeiro carmelita, que se sabe, a trabalhar nas Américas foi Gregório de Santa Maria junto com Francisco de Montejo em Yucatán no ano 1527. Houve conventos no Panamá por volta de 1535, em Nova Granada (Colômbia) em torno de 1560 e em Santa Fé de Bogotá em 1569. No tempo do prior geral Rossi vagavam pelas Américas religiosos carmelitas por vários motivos. Ele tentou fazer com que se juntassem e vivessem em convento. O Pe. Antonio Vásquez de Espinosa (+1630) trabalhou nas missões e viajou pela América Latina “descobrindo novos países” e escrevendo depois no livro Compendio y descripción de las Indias Occidentales (editado muitas vezes, também em versão inglesa em 1942) notícias da geografia, botânica, antropologia, história civil e eclesiástica da América espanhola. A partir de 1588, a Coroa da Espanha pôs repetidamente obstáculos à presença carmelita e por fim ordenou que os carmelitas abandonassem as suas fundações e voltassem pra a pátria, alegando como motivo que tinham fundado conventos sem licença e que davam escândalos recolhendo esmolas, mesmo se o objetivo era de piedade. As autoridades locais, ao contrário, elogiavam a sua atuação.

Mais livre foi a ação no Brasil, onde os carmelitas foram oficialmente convidados a ir em 1579 pelo cardeal Infante Henrique. Os quatro carmelitas foram ao Brasil no ano seguinte. Com o tempo formaram 3 províncias religiosas.

Notáveis também foram os resultados obtidos nas Antilhas pela Reforma de Touraine nas missões começadas em 1646 e duraram até o tempo da Revolução Francesa.

Na Itália a reforma de Monte Santo ou Primeiro Instituto surgiu com um objetivo missionário, mas as suas tentativas de abrir missões na Palestina, em Chipre e na Pérsia faliram. Conseguiu só fazer trabalhar alguns religiosos na Dalmácia, na região de Sebenico, por um período de mais ou menos 20 anos.

VI. A MAIS ESTRITA OBSERVÂNCIA

As boas esperanças suscitadas pela reforma dos descalços não se tornaram de tudo desilusão para o resto da Ordem com a separação de 1593. De fato, por mérito da chamada “reforma clementina”, isto é de Clemente VIII, comum a outras famílias religiosas, e especialmente reforma Touronense surgida na França no embalo entre os dois séculos, a mais “estrita observância” fez sentir o potente sopro da renovada espiritualidade.

Em Ennes, na província de Touraine, Pedro Behourt e, no estudo de Paris, Luís Charpentier e Felipe Thibault deram início ao movimento chamado de Reforma Tourunense (o nome é posterior). No capítulo provincial de 1604, presidido pelo prior geral Henrique Silvio, foi decidido de estendê-la a toda a província, e que de fato em 1619 tinha um vigário próprio e foi aprovada no capítulo geral do ano seguinte. O organizador foi o Pe. Thibault (1572-1638): penitente do cartuxo dom Beaucousin, ele se liga aos inícios da Escola Francesa e à “invasão mística”. Esteve por longo tempo pelo menos duas vezes com os carmelitas descalços, e portanto, pôde inspirar-se também neles, especialmente à organização da observância religiosa. No mais, para a instrução dos noviços em Rennes se usava o Stimulus compunctionis do carmelita descalço João de Jesus Maria. Um outro descalço Domingos de Jesus foi o censor dos estatutos de Rennes. Ele introduziu a reforma na província Flandro-Belga (1624, obra continuada depois pelos padres Martino de Hooghe e Livino da Santíssima Trindade) e na da Aquitânia (reformada pelo Pe. João Thuaut), em 1636 aceitou também as constituições reformadas elaboradas no mesmo ano sob a direção do Pe. Leão de São João. Tais constituições, em 1645, foram pedidas também pelas províncias da França e de Tolosa; a da Provença naquele ano também foi reformada com exceção de dois conventos; a de Narbona, em 1644, teve os seus estatutos compostos pelo cardeal Ginetti. O mestre espiritual da reforma foi o irmão converso cego João de São Sansão, cujo nome era João Moulin (1571-1636).

A reforma fez progressos também fora da França. Foi a Província Santo Alberto da Sicília a dar início à “mais estrita observância” com os padres Desidério Placa e Alfio Licandro. Em 1619 teve início em Catânia a reforma chamada de Primeiro Instituto ou de Monte Santo, inspirada na reforma dos descalços, aprovada em 1621 pelo prior geral Sebastião Fantoni (1612-23). Como já foi dito, para melhor viver a vida espiritual, esta quis pôr o acento sobre o espírito missionário, mas não obteve bons resultados, em parte devido a obstáculos surgidos fora dela.

Em Nápoles no ano 1623, por obra de alguns religiosos do Convento Carmine Maggiore, surgiu a reforma de Santa Maria da Vida. Foi reconhecida como província autônoma em 1660, abrangia 8 conventos. Entre seus filhos mais ilustres recorda-se: Daniel Scoppa, primeiro provincial; André Matelloni, grande pregador mariano; Eliseu Vassallo e os conversos Paulino Zabata, Pedro da Cruz (morto por contágio servindo aos apestados) e Estevão Pelosio, grande penitente.

A reforma de Piemonte ou de Turim foi instituída em 1633 em Turim por Ludovico Bolla (+ 1635), que foi feito comissário pelo prior geral Teodoro Straccio (1631-42) e teve como sucessor Domingos de Santa Maria (1605-65). Os estatutos da reforma foram aprovados pelo vigário geral Alberto Massari em 1642 e pelo capítulo geral de 1645, e em 1671 foi erigida em província. A reforma, porém, não estava de toda estabelecida, tanto que o cardeal protetor Paluzzo Altieri dos Albertoni, em 1685, chamou da Aquitânia o Pe. Valentim de São João (1631-91). Entre seus homens ilustres se recorda: Jerônimo Aymo (1621-1705), provincial, o os dois priores gerais Jerônimo Aro (1660-66) e Paulo de Santo Inácio (1686-92). Sucederam-se vários contrastes e uma reforma na reforma, concluída em 1729.

No século XVIII aconteceu na Itália uma outra reforma, a de Santa Maria Escada do Paraíso, iniciada em Siracusa em 1724 por obra do Pe. Salvador Statella (1679-1728) e do venerável frei Jerônimo Terzo (1683-1758, processo apostólico 1793). Junto com outros 7 conventos, em 27 de julho de 1641 a Reforma foi erigida como província.
A reforma foi adotada também em outros lugares. Limitando-se às formas de vida organizada, recorda-se: em Portugal foi iniciada no convento de Santa Ana de Colares; no capítulo geral de 1686 se estabeleceu que se devia fazer estatutos especiais e que os reformados da província fossem chamados de “recoletos”. Pouco depois a reforma foi introduzida em Goiana (Pernambuco – Brasil) e se tornou província autônoma em 1744.

Na Alemanha trabalharam especialmente os padres Gabriel da Anunciação e José da Circuncisão. Em 1660 as duas províncias alemãs estavam reformadas. Também a Polônia teve uma província reformada.

Este movimento de “mais estrita observância”, na prática, foi suscitado pela Reforma Touronense, mas nem esta nem as outras se constituíram numa congregação autônoma. Tratava-se sobretudo de um espírito que se aceitava livremente e vivido dentro da Ordem. Tanto que, paralelamente à “mais estrita observância”, havia aquela comum, regulada também pelas constituições próprias, aprovadas no capítulo geral de 1625. O capítulo de 1645 se preocupou de tornar acessível todas as reformas as constituições da Touronense. Portanto foi elaborada uma nova redação (com introdução de algumas modificações desejadas pelo Papa Inocêncio X: os “artigos inocencianos”), impressa em 1650. Esta devia ser a base de todas, mas as reformas individuais podiam acrescentar estatutos particulares (denominados também como “leis municipais”), como já havia feito a província de Gasconha em 1639. Os 28 “artigos filipinos” (assim conhecidos porque foram dados pelo prior geral João Antonio Filippini, 1648-54) ditaram normas para a introdução da Touronense nas outras províncias.

Destas constituições resulta que a “mais estrita observância” pretendia renovar o espírito contemplativo da Ordem através da meditação diária, um maior retiro e solidão nas celas, o silêncio e a mortificação. De outro lado foram revogados os privilégios dos graduados e restaurada a perfeição da vida comum. Foi revogada também a “filiação” dos religiosos aos conventos individuais. Com isto os religiosos ficaram mais livres no âmbito da província.

Os dois corpos de constituições (para os reformados e para aos outros) permaneceram distintos até 1904, quando foram refeitas as constituições turonenses para toda a Ordem. Com a promulgação do CIC em 1917 as constituições foram readequadas ao código e aprovadas em 1930. A atualização pós-conciliar produziu as constituições de 1971. O novo CIC, publicado em 1983, provocou uma nova versão aprovada no capítulo geral de 1995.

VII. SÉCULOS XVII e XVIII

Se é lícito argüir a partir do elevado número de casas e religiosos, os séculos XVII e XVIII foram de intensas atividades para os carmelitas. Trabalhou-se especialmente pela expansão da devoção mariana através de escritos e dedicação às Ordens Terceiras e Confrarias do Escapulário do Carmo. Cada convento ou mosteiro carmelita tornou-se um centro de vida mariana. No início do século XVII havia 30 províncias e vicariados, com 693 conventos e mais de 12.000 religiosos. Os mosteiros femininos, sob a jurisdição da Ordem, eram 33 com mais ou menos 1.500 monjas (estes dados não incluem os descalços, visto que já tinham se separado no final do século anterior). A maioria dos conventos se encontrava na Itália, onde as outras ordens religiosas também eram numerosas. Portanto nem sempre era possível que a vida se desenvolvesse com garantia de segurança econômica indispensável para observância regular. Por isto em 1633 o prior geral Teodoro Straccio recebeu a faculdade de fechar os pequenos conventos e depois a Sagrada Congregação dos Religiosos, seguindo as decisões da Instaurandae regularis disciplinae de Inocêncio X, declarou supressos 217 conventos carmelitas na Itália, mas mais tarde 20 destes puderam continuar existindo sob a autoridade dos bispos como delegados da Santa Sé. Além destes, alguns foram fechados ou foram reabertos logo em seguida. Deste modo, dos 503 conventos que existiam em 1650, o número baixa para 322 em 1685. No século seguinte há um pequeno crescimento, ou seja, aumenta para 353 em 1765. Também na França, onde havia 7 províncias e um convento generalício com um total de 122 casas e 1691 carmelitas, em 1669 o prior geral Mateus Orlando (1666-74), a pedido de Clemente IX, fechou 19.

A atividade científica e literária nestes dois séculos registra notáveis nomes.

Nas Ciências Sacras (outros autores serão indicados quando a propósito da espiritualidade e doutrina mariana): os teólogos João Antonio Bovio (1566?-1622), bispo de Molfetta; Antonio Marinari Junior (1605-89); Pedro Tomás Cacciari (+ 1768); o biblista e canonista João da Sylveira (1592-1687) e João Batista de Lezana (1586-1659).

Na literatura: Gaudenzio Roberti (1655-95), fundador do «Giornale dei letterati» de Parma; Elias D’Amato (1668-1748), chamado «Tirinarco» na academia dos Incultos de Montalto da Calábria; Teobaldo Ceva (1697-1746); Agostinho Arcangelo (1661-1746), tradutor de 127 volumes do francês (com o pseudônimo de Selvaggio Canturani); Mariano Ruele (1699-?) na Arcádia «Gilasco Eutelidense»; José Maria Pagnini (1737-1814), na academia «Eritisco Pileneio», tradutor das línguas clássicas.

Na bibliografia: os franceses Ludovico Jacob (1608-70) e Cosme de Villiers (1683-?), cuja «Bibliotheca carmelitana» editada em 1752 continua sendo um indispensável repertório; os italianos Pellegrino Antonio Orlandi (1660-1727, autoridade também no campo da pintura) e João Batista Archetti (1700-65); o português Manuel de Sá (1674-1735); o belga Norberto de S. Juliana (1710-57).

Nas ciências naturais e matemáticas recordamos os astrônomos Pacífico Giuntini (1522-90); Paulo Antônio Foscarini (verdadeiro nome Scaridini, 1565ca-1616), ficou célebre por causa da sua «Lettera» publicada em Nápoles em 1615 defendendo as idéias de Galileu sobre a mobilidade da terra; o matemáticos Elias Del Re (+ 1733) e Elias Astorini (1651-1702) que entendia também de medicina, de filosofia e foi profundo controversista teológico.

Na música ou sua teoria: Alexandre Tadei (1585ca-1667); Lourenço Penna (1631-93); Jerônimo Filago Casati (1598-1677); Mateus Flecha (1530-1604); Manoel Cardoso (1570-1650) e Manoel Correa (+1657).

Cultores da história da Ordem: o já recordado João Batista de Lezana; Daniel da Virgem Maria (1615-78), autor do «Speculum carmelitanum»; Ludovico Pérez de Castro (1635-89); João Batista Guarguanti (1604-82); Carlos Vaghi (1644-1729); Mariano Ventimiglia (1703-90); Eliseu Monsignani (+ 1737) e José Alberto Ximenez (1719-80), editores — estes dois últimos — do «Bullarium carmelitanum»; Serafim Potenza (1697-1763); José Pereira de S. Ana (1696-1759).

A Ordem teve também — de 1600 à revolução francesa — cerca de 80 bispo e alguns servos de Deus cujos processos encontram-se na Congregação para as Causas dos Santos: Ângelo Paoli (1642-1720), o «Pai dos pobres» em Roma; Jerônimo Terzo (1683-1758), fundador do convento de Noto; João Domingos Lucchesi (1652-1714); Rosa Maria Serio de S. Antonio (1674-1726); Serafina de Deus (1621-99), que foi coordenadora de um grupo de mosteiros conhecidos também como «Congregação do SS. Salvador»; a terciária Ângela Maria Virgili (1662-1734).

VIII. SUPRESSÕES

Em 1788, às vésperas da Revolução Francesa, a Ordem tinha 42 províncias e 3 vicariados (17 na Itália, 8 na França, 4 na Espanha, 5 na Europa central, 4 no Brasil, 3 na Alemanha, 2 na Valônia e Bélgica, 1 em Portugal e 1 na Irlanda), cerca de 780 conventos e 15.000 religiosos. A tempestade das supressões já estava no ar há tempo. Em 1768 o edito da República Vêneta continha pontos sobre a vida religiosa e no ano seguinte aconteceu o fechamento de conventos religiosos, entre os quais 12 carmelitas. Em 1717, na Baviera foi proibida a criação de novos conventos e no início de 1800 foram supressos todos. Em 1778 o príncipe eleitor de Mogúncia (Mainz) tirou do prior geral todos os poderes de jurisdição em seu território. Foi imitado pelo bispo de Worms e pelo imperador José II na Áustria e Bélgica. Também tomaram a mesma medida Leopoldo, irmão do imperador, na Toscana, e Ferdinando IV na Sicília em 1788. O rei da Sardenha Vitório Amadeu II pediu a união dos conventos em suas posses no continente (Piemonte). Esta situação, que não tinha nada a ver com problemas financeiros urgentes, determinou o pedido por parte da Ordem para que fossem supressas e unidas ao seu tronco as reformas de Piemonte, Monte Santo e Congregação Mantuana. Isto foi concedido pelo Papa Pio VI com a bula Exigit em 21 de março de 1783 (uma declaração sucessiva, datada 30 de setembro de 1785, esclarecia que a bula incluía também as províncias sicilianas de Monte Santo e da Escada do Paraíso).

Na França as 8 províncias com seus 130 conventos foram supressos em 1790 e os religiosos foram dispersos (vários sofrearam deportação ou foram mortos: o mais conhecido destes é o Pe. Martinho Pannittier, decapitado em Bordeaux em 21 de julho de 1794. Em 1925 foi iniciada a sua causa de beatificação). O convento de Paris foi usado como cárcere e lugar de execução de 113 sacerdotes de várias proveniências na “matança setembrina” de 1792.

Na Bélgica a supressão aconteceu em 1796, e em 1812 na Holanda, onde permaneceu reconhecido só o convento de Boxmeer, que, porém, até 1841 não podia receber noviços. A secularização na Alemanha aconteceu entre 1801 e 1803. Também ali só se permitiu a existência de um só convento, aquele de Straubing, mas com a proibição de receber noviços.

A idéias francesas, transportadas pelos soldados do exército de Napoleão, tiveram a sua influência também na Itália até se chegar à supressão em 1810. O prior geral Timóteo Maria Ascensi já tinha sido deportado para a França um ano antes.

Na Espanha, em 1772, o prior geral José Alberto Ximenez havia supresso 6 conventinhos para dar maior respiro aos outros. A pedido do rei Carlos IV, o Papa Pio VII, em 15 de maio de 1804, concedeu aos carmelitas espanhóis – mais numerosos do que em outros lugares, se dizia, e necessitados de renovada disciplina – um superior geral próprio com paridade de direitos como o outro para o resto da Ordem. Para se salvar a unidade se diria alternativamente a um prior geral e ao outro vigário. A supressão na península Ibérica aconteceu em 1832 em Portugal e em 1835 na Espanha, onde foram fechados 78 conventos.

Na Europa centro-oriental a província da Boemia foi danificada no tempo de José II; os 34 conventos da Volínia, Lituânia e Rússia Branca foram em grande parte supressos após a insurreição de 1832 e em 1863, permanecendo só 7 conventos da Galícia austríaca (estes também foram supressos mais tarde).

No Brasil, o imperador dom Pedro II, em 1855, proibiu a aceitação de noviços. Em 1890, das antigas e florescentes províncias só restavam 8 sacerdotes.

Conhecidíssimas são as supressões na Itália nos anos 1855-73. Dos 124 conventos carmelitas e cerca de 1.050 religiosos do ano 1850, em 1908 – portanto quando a restauração já tinha sido iniciada – havia 32 conventos com 212 religiosos; dos 82 conventos da Sicília só permaneceram 6, com os quais, em 1903, se pensou em erigir um comissariado.

IX. RESTAURAÇÃO E ESTATÍSTICA ATUAL

Apesar das leis de supressão foi possível salvar aqui e ali algum convento, que foi a semente de restauração. Na Holanda se instituiu em 1879 uma província que abrangia também o convento alemão de Straubing. Em 1896 foi criado o Vicariado da Baviera. Na Espanha se recriou uma província em 1889, que em 1906 foi dividida em duas. Carmelitas bávaros, em 1864, lançaram nos Estados Unidos da América para uma província reconhecida como tal em 1889. Em 1896 na ilha de Malta foi erigida uma província. Na França não se conseguiu entrar: uma tentativa feita em Montpellier em 1878 foi anulada dois anos mais tarde por leis contrárias.

Muito ativa foi a província da Irlanda. Em 1881 alguns carmelitas irlandeses foram para a Austrália, outros, em 1889, partiram para Nova Yorque. Em 1926 re-introduziram a Ordem na Inglaterra (hoje Província Britânica), e em 1946 abriram missões na Rodésia (Zimbabwe).

Muito notável também foi a obra da província da Holanda. Em 1904 assumiu a restauração do Carmelo Brasileiro na Província do Rio de Janeiro; em 1923 abriu missões em Java (hoje província de Indonésia). Em 1924 retomou as fundações na região da Renânia alemã (erigida província em 1969) e em 1958 implantou a Ordem nas Filipinas (hoje Comissariado Geral).

Mais lenta foi a restauração na Itália, se considerarmos o seu antigo esplendor. Em 1909 a S. Congregação dos Religiosos consignou os conventos remanescentes das províncias da Sardenha e da Romanha para as províncias Romana e Toscana. Em 1987 deu-se início a um caminha em direção a criação de uma federação entre as províncias Romana, Toscana, Siciliana e o Comissariado de Vittorio Veneto, que em 1989 chegou a uma unificação formando uma nova entidade de uma única província chamada Italiana.

Na Espanha a restauração, iniciada em 1875, se propagou de Palma de Maiorca às várias regiões, sendo em 1889 erigida a província de Espanha, da qual posteriormente deu origem às atuais 4 províncias: Arago-Valentina, Bética, Catalunha e Castilha. Em 1894 deram início à restauração do Carmelo Brasileiro. Um duro golpe foi a guerra civil que ensangüentou a Espanha entre os anos 1936-39, ceifando a vida de 57 carmelitas. Porém, nos anos sucessivos se recompôs e se abriram missões na América Latina. Em 1930 começou a restauração em Portugal. A Ordem se refez também na Polônia, que contou com a ajuda espanhola.

Após a Segunda Guerra Mundial, que causou graves danos e destruição nos países da Europa, nos anos da reconstrução se nota na Ordem um novo impulso não só de ministério e de ciência, mas também a abertura de atividades missionárias propriamente ditas, especialmente na África, Ásia e América Latina. Em 1990 houve o retorno à França.

Em primeiro plano, oportunamente atualizadas segundo as diretrizes do Concílio Vaticano II, estão as atividades paroquiais e no campo da justiça e paz, unidas às formas tradicionais com o ensinamento, a pregação, os retiros espirituais, o culto mariano, a assistência espiritual às associações ligadas ao Carmelo, e outras formas em resposta às exigências das várias Igrejas locais e das terras de missões.

A Ordem tinha, em 31 de dezembro de 2005, 19 províncias, 3 comissariados gerais e 3 delegações gerais, distintas por sua vez em diversos grupos operativos chamados “Regio”. Os 1960 religiosos carmelitas estão presentes em 38 países dos cinco continentes. Os conventos e casas são 392.

O ramo feminino é representado por 872 monjas de clausura em 75 mosteiros e por 3.286 irmãs de 15 institutos de vida ativa com 417 comunidades.

Sobre os terciários e leigos que vivem sob a sombra do Carmelo se pode calcular um número aproximado de 3 milhões.

Como destaques individuais pode-se citar: o holandês frei Tito Brandsma, o “jornalista mártir” morto no campo de concentração de Dachau em 1942, e beatificado por João Paulo II em 1985; o polonês frei Hilário Januszewki (1907-1945), beatificado em 1999; o alemão frei João Brenninger (1890-1946), autor do célebre “Diretório espiritual” e morto em conceito de santidade; o catalão frei Bartolomeu Xiberta (1897-1967), eminente teólogo e experto no Concílio Vaticano II.

A Ordem mantém missões na Indonésia e na África e desenvolve atividades apostólicas em vários países da América Latina e nas Filipinas.

São 11 os bispos carmelitas na atualidade.

Promotor de estudos específicos da Ordem é o Institutum Carmelitanum (fundado em 30 de outubro de1951) em Roma, está sob a imediata jurisdição do prior geral. Seu órgão divulgativo é Carmelus (desde 1954). O órgão oficial da Ordem é a revista Analecta Ordinis Carmelitarum (fundada em 1909).

Casa generalícia e procura geral: via Giovanni Lanza, 138 - 00184 Roma.

Fonti e collezioni generali:

- G.B. de Cathaneis, Speculum Ordinis Fratrum Carmelitarum, Venezia 1507;
- I.B. de Lezana, Annales sacri et elioni Ordinis b.mae V. Marine de Monte Carmeli, IV, Roma 1656;
- Daniel a Virgine Maria, Vinea Carmeli seu historia eliani Ordinis, Anversa 1672;
- Id., Speculum carmelitanum, 2 vol. in 4 t., ivi 1680;
- Bullarium carmelitanum, ed. E. Monsignani-I.A. Ximenez, 4 vol., Roma 1715-68;
- C. Vaghi, Commentaria fratrum et sororum Ordinis b.mae Mariae V. de Monte Carmelo Congregationis Mantuanae, Parma 1725;
- C. de Villiers, Bibliotheca carmelitana, 2 vol., Orléans 1752 (ried. anastatica, Roma 1927);
- M. Ventimiglia, Historia chronologica priorum generalium latinorum Ordinis B.V. Mariae de M. Carmelo, Napoli 1773 (ried. Anastatica, Roma 1929);
- Id., Il sacro Carmelo italiano, ivi 1779;
- B. Zimmerman, Monumenta historica carmelitana, Lirinae 1907;
- Acta capitulorum generalium Ordinis Fratrum B.V. Mariae de M. Carmelo, ed. G. Wessels, 2 vol., Roma 1912-34;
- B. Xiberta, De scriptoribus scholasticis saec. XIV ex Ordine Carmelitarum, Lovanio 1931 (Bibliothèque de la Revue d’histoire ecclésiaslique 6);
- Norbertus a S. Iuliana, Batavia desolata carmelitana, sive notitia conventuum Fratrum Ordinis B. Mariae V. de M. Carmelo in foederato Belgio olim sitorum, in AnalOC 8 (1932-6)371-584;
- Antoine-Marie de la Présentation, Le Carmel en France, 7 vol., Toulouse 1936-9;
- Ambrosius a S. Theresia, Monasticon carmelitanum, seu lexicon geographicum-historicum omnium fundationum universi Ordinis Carmelitarum, in AnalOCD 22 e 23 (1950 e 1951), a puntate;
- L. Saggi, La Congragazione Mantovana dei Carmelitani sino alla morte del b. Battista Spagnoli (1516), Roma 1964 (Textus et studia historica carmelitana 1);
- A. Staring, Der Karmelitengeneral Nikolaus Andet und die katholische Reform des XVI. Jahrhunderts, Roma 1959 (Textus et studia historica carmelitana 3);
- P.W. Janssen, Les origenes de la réforme des C. en France au XVIIe siècle, L’Aja 1963. 19692. (Archives internacionales d’histoire des idées 4);
- O. Steggink, La reforma del Carmelo Español, la visita canónica del general Rubeo y su encuentro con Santa Teresa (1566-67), Roma 1965 (Textus et studia historica carmelitana 7);
- L. van Wijmen, La Congrégation d’Albi (1499-1602) , Roma 1971 (Textus et studia historica carmelitana 11);
- C. Cicconetti, La regola del Carmelo; origine, natura, significato, Roma 1973 (Textus et studia historica carmelitana 12).

Vários estudos ou indicações estão nas revistas:


- AnalOC;
- Carmelus (nel cui II fasc. di ogni anno, abbondante bibl.);
- EphC (dos Carmelitas Descalços, mas muitas vezes há estudos que se referem aos dois ramos do Carmelo);
- Archivum bibliographicum carmelitanum, Roma 1956 (também esta é dos Descalços, mas com indicações válidas para todo o Carmelo);
- Carmel (Holanda) 1948-68, depois substituida por Speling;
- The Sword, Downers Grove, III. USA, 1937-.
- StatOrdCongr, p. 8-9, nº 30;
- AnnPont 1974, p. 1154.
- L. Saggi, s. v. Carmelitani Storia, in DIP, II, 460-476.

Além da bibliografia acima indicada cf.:


- J. Smet, O.Carm., The Carmelites, A History of the Brothers of Our lady of Mout Carmel, 4 vol. in 5 tomos, Darien Ill., Carmelite Spiritual Center, 1975-1985 (traduzido em várias línguas: espanhol, holandês, polaco, alemão, italiano. Por enquanto não há uma tradução portuguesa);
- E. Boaga, O.Carm., Como pedras vivas ... para ler a história e a vida do Carmelo (Original em português, mas a edição está esgotada. Há traduções em espanhol e italiano).





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